21.10.09
Lampião no Cariri
Lampião dificilmente realizava ataques no Ceará, especialmente no Cariri, pois, segundo o próprio cangaceiro, não tinha inimigos no estado e respeitava a região por ser a terra de Padre Cícero, de quem era devoto. Se por um lado não tinha inimigos cearenses, por outro sobravam "coiteiros", como eram designados aqueles que davam abrigo e proteção aos cangaceiros. O principal "coiteiro" de Lampião no Cariri era o Coronel Isaias Arruda, do município de Aurora. Aliás, foi de Aurora que Lampião partiu para seu mais ousado (e fracassado), plano: assaltar a agência do Banco do Brasil de Mossoró, Rio Grande do Norte.
Em 13 de junho de 1927, os cangaceiros invadiram Mossoró, mas foram recebidos a bala, e após cerca de quarenta minutos de intenso combate, bateram em retirada rumo a Limoeiro do Norte no Ceará. Fortalecida após a vitória, a Polícia potiguar, com apoio das Polícias da Paraíba e do Ceará, partiu no encalço do bando. Acuado, o bando rumou para o Cariri. Houve confrontos nas localidades de Riacho do Sangue (Jaguaretama), Cacimbas (Icó), Ribeiro e Ipueiras (os últimos em Aurora). O bando seguiu para a Serra do Góes (Caririaçu), entretanto, sendo informado por um simpatizante que o município estava entricheirado esperando pela chegada dos cangaceiros, Lampião decidiu ir para Milagres. De lá foi para Piancó na Paraíba e depois para Pernambuco, conseguindo finalmente despistar as forças policiais.
Lampião esteve em Juazeiro do Norte uma única vez, no ano de 1926. Naquele ano, a Coluna Prestes percorria o Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la, foram criados os chamados Batalhões Patrióticos. O Coronel Góis Monteiro (ao lado), chefe do Estado-Maior e responsável por combater a Coluna, recrutava cangaceiros para auxiliar as tropas militares, em troca lhes dava anistia. Floro Bartolomeu, líder do Batalhão Patriótico de Juazeiro, ciente de que Prestes e Lampião já haviam se enfrentado uma vez e que estavam em território cearense, enviou carta para Lampião convidando-o a se juntar ao Batalhão Patriótico e oferecendo-lhe, em troca, a anistia do Governo Federal, a patente de Capitão e o encontro com Padre Cícero. Entretanto, o sacerdote não sabia da aliança.
Em 04 de março de 1926, Lampião e outros 49 cangaceiros chegaram a Juazeiro com o intuito de servir ao Batalhão Patriótico. Floro Bartolomeu, que estava muito doente em virtude de angina, se encontrava no Rio de Janeiro, onde faleceu quatro dias após. Coube a Pedro de Albuquerque Uchoa, na época o único funcionário público federal no municípo, entregar armas, anistia e a patente de Capitão ao Rei do Cangaço. Pedro de Albuquerque não tinha competência para tais atos, mas mesmo assim rabiscou em uma folha de papel que os cangaceiros tinham sido anistiados e que a partir daquele dia Lampião estaria a serviço do Governo na condição de Capitão. Tempo depois, ao ser questionado sobre o fato, Pedro de Albuquerque disse que na frente de Lampião assinaria qualquer coisa que o cangaceiro exigisse, até a destituição do Presidente da República!
Ao encontrarem Padre Cícero, Lampião e seus homens se ajoelharam, mas foram supreendidos ao ouvir o sacerdote aconselhá-los a abandonar o cangaço. Vendo que tinha sido vítima de uma farsa, pois não seria anistiado e Padre Cícero não o tinha convocado, Lampião deixou Juazeiro levando as armas do Batalhão Patriótico e sem jamais voltar a enfrentar a Coluna Prestes.
Bibliografia:
*BORGES, Raimundo de Oliveira. Serra de São Pedro: História de Caririaçu. Fortaleza: ABC Editora: 2009.
*COUTINHO, Lourival. O General Góes Depõe... Rio de Janeiro: Editora Coelho Branco, 1956.
*SOUZA, Anildomá Willans. Lampião: Nem herói nem bandido... A história. Serra Talhada: GDM Gráfica, 2006.
*TAVARES, Amarílio Gonçaves. Aurora: História e Folclore. Fortaleza: IOCE, 1993.
Micael François
14.10.09
Entrevista de Lampião
Em 1926, quando esteve de passagem por Juazeiro, Lampião concedeu entrevista ao médico Dr. Otacílio Macêdo. Segue a entrevista em sua íntegra, em breve traremos mais detalhes sobre a passagem do "Rei do Cangaço" pelo Cariri.
A entrevista teve dois momentos. O primeiro foi travado o seguinte diálogo:
OM: Que idade tem?
L: Vinte e sete anos.
OM: Há quanto tempo está nesta vida?
L: Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor Pereira.
OM: Não pretende abandonar a profissão?
L: Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo.
OM: Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?
L: Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.
OM: E depois, que profissão adotará?
L: Talvez a de negociante.
OM: Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias?
L: Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
Nesta altura chegou o 1° tenente do Batalhão Patriótico de Juazeiro, e chamou Lampião para um particular. De volta avisou-nos o facínora:
L: Só continuo a fazer este "depoimento" com ordem do meu superior. (Sic!)
OM: E quem é seu superior?
L: (Silêncio).
OM: Está direito...
Quando voltamos, algumas horas depois, à presença de Lampião, já este se encontrava instalado em casa do historiador brasileiro João Mendes de Oliveira.
Rompida, novamente, a custo, a enorme massa popular que estacionava defronte à casa, penetramos por um portão de ferro, onde veio Lampião ao nosso encontro, dizendo:
L: Vamos para o sótão, onde conversaremos melhor.
Subimos uma escadaria de pedra até o sótão. Aí notamos, seguramente, uns quarenta homens de Lampião, uns descansando em redes, outros conversando em grupos; todos, porém, aptos à luta imediata: rifle, cartucheiras, punhais e balas...
OM: Desejamos um autógrafo seu, Lampião.
L: Pois não.
Sentado próximo de uma mesa, o bandido pegou da pena e estacou, embaraçado.
L: Que qui escrevo?
OM: Eu vou ditar.
E Lampião escreveu com mãos firmes, caligrafia regular.
"Juazeiro, 6 de março de 1926
Para... e o Coronel...
Lembrança de EU.
Virgulino Ferreira da Silva.
Vulgo Lampião".
Os outros facínoras observavam-nos, com um misto de simpatia e desconfiança. Ao lado, como um cão de fila, velava o homem de maior confiança de Lampião, Sabino Gomes, seu lugar-tenente, mal-encarado.
L: É verdade, rapazes! Vocês vão ter os nomes publicados nos jornais em letras redondas...
A esta afirmativa, uns gozaram o efeito dela, porém parece que não gostaram da coisa.
OM: Agora, Lampião, pedimos para escrever os nomes dos rapazes de sua maior confiança.
L: Pois não. E para não melindrar os demais companheiros, todos me merecem igual confiança, entretanto poderia citar o nome dos companheiros que estão há mais tempo comigo.
E escreveu.
1 - Luiz Pedro
2 - Jurity
3 - Xumbinho
4 - Nuvueiro
5 - Vicente
6 - Jurema
E o estado maior:
1 - Eu, Virgulino Ferreira
2 - Antônio Ferreira
3 - Sabino Gomes.
Passada a lista para nossas mãos fizemos a "chamada" dos cabecilhas fulano, cicrano, etc.
Todos iam explicando a sua origem e os seus feitos. Quando chegou a vez de "Xumbinho", apresentou-se-nos um rapazola, quase preto, sorridente, de 18 anos de idade.
OM: É verdade, "Xumbinho"! Você, rapaz tão moço, foi incluído por Lampião na lista dos seus melhores homens... Queremos que você nos ofereça uma lembrança...
"Xumbinho" gozou o elogio. Todo humilde, tirou da cartucheira uma bala e nos ofereceu como lembrança...
OM: No caso de insucesso com a polícia, quem o substituirá como chefe do bando?
L: Meu irmão Antônio Ferreira ou Sabino Gomes...
OM: Os jornais disseram, ultimamente, que o tenente Optato, da polícia pernambucana, tinha entrado em luta com o grupo, correndo a notícia oficial da morte de Lampião.
L: É, o tenente é um "corredor", ele nunca fez a diligência de se encontrar "com nós"; nós é que lhe matemos alguns soldados mais afoitos.
OM: E o cel. João Nunes, comandante geral da polícia de Pernambuco, que também já esteve no seu encalço?
L: Ah, este é um "velho frouxo", pior do que os outros...
Neste momento chegou ao sótão uma "romeira" velha, conduzindo um presente para Lampião. Era um pequeno "registro" e um crucifixo de latão ordinário. "Velinha", apresentando as imagens: "Está aqui, seu coroné Lampião, que eu truve para vomecê".
L: Este santo livra a gente de balas? Só me serve si for santo milagroso.
Depois, respeitosamente, beijou o crucifixo e guardou-o no bolso. Em seguida tirou da carteira um nota de 10$000 e gorgetou a romeira.
OM: Que importância já distribuiu com o povo do Juazeiro?
L: Mais de um conto de réis.
Lampião começou por identificar-se:
L: Chamo-me Virgulino Ferreira da Silva e pertenço à humilde família Ferreira do Riacho de São Domingos, município de Vila Bela. Meu pai, por ser constantemente perseguido pela família Nogueira e em especial por Zé Saturnino, nossos vizinhos, resolveu retirar-se para o município de Águas Brancas, no estado de Alagoas. Nem por isso cessou a perseguição. Em Águas Brancas, foi meu pai, José Ferreira, barbaramente assassinado pelos Nogueira e Saturnino, no ano de 1917. Não confiando na ação da justiça pública, por que os assassinos contavam com a escandalosa proteção dos grandes, resolvi fazer justiça por minha conta própria, isto é, vingar a morte do meu progenitor. Não perdi tempo e resolutamente arrumei-me e enfrentei a luta. Não escolhi gente das famílias inimigas para matar, e efetivamente consegui dizimá-las consideravelmente.
Sobre os grupos a que pertenceu:
L: Já pertenci ao grupo de Sinhô Pereira, a quem acompanhei durante dois anos. Muito me afeiçoei a este meu chefe, porque é um leal e valente batalhador, tanto que se ele ainda voltasse ao cangaço iria ser seu soldado.
Sobre suas andanças e seus perseguidores:
L: Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, e uma pequena parte do Ceará. Com as polícias desses estados tenho entrado em vários combates. A de Pernambuco é disciplinada e valente, e muito cuidado me tem dado. A da Paraíba, porém, é uma polícia covarde e insolente. Atualmente existe um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências, muito se parecendo com a força paraibana.
Referindo-se a seus coiteiros, Lampião esclareceu:
L: Não tenho tido propriamente protetores. A família Pereira, de Pajeú, é que tem me protegido, mais ou menos. Todavia, conto por toda parte com bons amigos, que me facilitam tudo e me consideram eficazmente quando me acho muito perseguido pelos governos. Se não tivesse de procurar meios para a manutenção dos meus companheiros, poderia ficar oculto indefinidamente, sem nunca ser descoberto pelas forças que me perseguem. De todos meus protetores, só um traiu-me miseravelmente. Foi o coronel José Pereira Lima, chefe político de Princesa. É um homem perverso, falso e desonesto, a quem durante anos servi, prestando os mais vantajosos favores de nossa profissão.
A respeito de como mantém o grupo:
L: Consigo meios para manter meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força aos usuários que miseravelmente se negam de prestar-me auxílio.
Se estava rico?
L: Tudo quanto tenho adquirido na minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as vultuosas despesas do meu pessoal - aquisição de armas, convindo notar que muito tenho gasto, também, com a distribuição de esmolas aos necessitados.
A respeito do número de seus combates e de suas vítimas disse:
L: Não posso dizer ao certo o número de combates em que já estive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de duzentos. Também não posso informar com segurança o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira de meu rifle. Entretanto, lembro-me perfeitamente que, além dos civis, já matei três oficiais de polícia, sendo um de Pernambuco e dois da Paraíba. Sargentos, cabos e soldados, é impossível guardar na memória o número dos que foram levados para o outro mundo.
Sobre as perseguições e fugas deixou claro:
L: Tenho conseguido escapar à tremenda perseguição que me movem os governos, brigando como louco e correndo rápido como vento quando vejo que não posso resistir ao ataque. Além disso, sou muito vigilante, e confio sempre desconfiando, de modo que dificilmente me pegarão de corpo aberto. Ainda é de notar que tenho bons amigos por toda parte, e estou sempre avisado do movimento das forças. Tenho também excelente serviço de espionagem, dispendioso mas utilíssimo.
Seu comportamento mereceu alguns comentários bastante francos:
L: Tenho cometido violências e depredações vingando-me dos que me perseguem e em represália a inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias, por mais humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente.
Perguntado se deseja deixar essa vida:
L: Até agora não desejei, abandonar a vida das armas, com a qual já me acostumei e sinto-me bem. Mesmo que assim não sucedesse, não poderia deixá-la, porque os inimigos não se esquecem de mim, e por isso eu não posso e nem devo deixá-los tranquilos. Poderia retirar-me para um lugar longinguo, mas julgo que seria uma covardia, e não quero nunca passar por um covarde.
Sobre a classe da sua simpatia:
L: Gosto geralmente de todas as classes. Aprecio de preferência as classes conservadoras - agricultores, fazendeiros, comerciantes, etc., por serem os homens do trabalho. Tenho veneração e respeito pelos padres, porque sou católico. Sou amigo dos telegrafistas, porque alguns já me tem salvo de grandes perigos. Acato os juizes, porque são homens da lei e não atiram em ninguém. Só uma classe eu detesto: é a dos soldados, que são meus constantes perseguidores. Reconheço que muitas vezes eles me perseguem porque são sujeitos, e é justamente por isso que ainda poupo alguns quando os encontro fora da luta.
Perguntado sobre o cangaceiro mais valente do nordeste:
L: A meu ver o cangaceiro mais valente do nordeste foi Sinhô Pereira. Depois dele, Luiz Padre. Penso que Antonio Silvino foi um covarde, porque se entregou às forças do governo em consequência de um pequeno ferimento. Já recebi ferimentos gravíssimos e nem por isso me entreguei à prisão. Conheci muito José Inácio de Barros. Era um homem de planos, e o maior protetor dos cangaceiros do nordeste, em cujo convívio sentia-se feliz.
Questionado sobre ferimentos em combate, contou:
L: Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre estes, um na cabeça, do qual só por um milagre escapei. Os meus companheiros também, vários têm sido feridos. Possuímos, porém, no grupo, pessoas habilitadas para tratar dos ferimentos, de modo que sempre somos convenientemente tratados. Por isso, como o senhor vê, estou forte e perfeitamente sadio, sofrendo, raramente, ligeiros ataques reumáticos.
Sobre ter numeroso grupo:
L: Desejava andar sempre acompanhado de numeroso grupo. Se não o organizo conforme o meu desejo é porque me faltam recursos materiais para a compra de armamentos e para a manutenção do grupo - roupa, alimentação, etc. Estes que me acompanham é de quarenta e nove homens, todos bem armados e municiados, e muito me custa sustentá-los como sustento. O meu grupo nunca foi muito reduzido, tem variado sempre de quinze a cinquenta homens.
Sobre padre Cícero Lampião foi bem específico:
L: Sempre respeitei e continuo a respeitar o estado do Ceará, porque aqui não tenho inimigos, nunca me fizeram mal, e além disso é o estado do padre Cícero. Como deve saber, tenho a maior veneração por esse santo sacerdote, porque é o protetor dos humildes e infelizes, e sobretudo porque há muitos anos protege minhas irmãs, que moram nesta cidade. Tem sido para elas um verdadeiro pai. Convém dizer que eu ainda não conhecia pessoalmente o padre Cícero, pois esta é a primeira vez que venho a Juazeiro.
Em relação ao combate aos revoltosos:
L: Tive um combate com os revoltosos da coluna Prestes, entre São Miguel e Alto de Areias. Informado de que eles passavam por ali, e sendo eu um legalista, fui atacá-los, havendo forte tiroteio. Depois de grande luta, e estando com apenas dezoito companheiros, vi-me forçado a recuar, deixando diversos inimigos feridos.
A respeito de sua vinda ao Ceará:
L: Vim agora ao Cariri porque desejo prestar meus serviços ao governo da nação. Tenho o intuito de incorporar-me às forças patrióticas do Juazeiro, e com elas oferecer combate aos rebeldes. Tenho observando que, geralmente, as forças legalistas não têm planos estratégicos, e daí os insucessos dos seus combates, que de nada tem valido. Creio que se aceitassem meus serviços e seguissem meus planos, muito poderíamos fazer.
Sobre o futuro Lampião mostrou-se incerto, apesar de ter planos:
L: Estou me dando bem no cangaço, e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso trabalhar ainda uns três anos. Tenho de visitar alguns amigos, o que não fiz por falta de oportunidade. Depois, talvez me torne um comerciante.
Aqui termina a entrevista concedida por Lampião em Juazeiro.
Na despedida Lampião nos acompanhou até a porta. Pediu nosso cartão de visita e acrescentou:
L: Espero contar com os "votos" dos senhores em todo tempo!
OM: Que dúvida...
Como sabemos, Lampião, o "Rei do Cangaço", não viveu o suficiente para ver todos seus planos concretizados.
Fonte:
* http://www.sertaonet.com.br/lampiao/fala.html
A entrevista teve dois momentos. O primeiro foi travado o seguinte diálogo:
OM: Que idade tem?
L: Vinte e sete anos.
OM: Há quanto tempo está nesta vida?
L: Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor Pereira.
OM: Não pretende abandonar a profissão?
L: Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo.
OM: Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?
L: Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.
OM: E depois, que profissão adotará?
L: Talvez a de negociante.
OM: Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias?
L: Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
Nesta altura chegou o 1° tenente do Batalhão Patriótico de Juazeiro, e chamou Lampião para um particular. De volta avisou-nos o facínora:
L: Só continuo a fazer este "depoimento" com ordem do meu superior. (Sic!)
OM: E quem é seu superior?
L: (Silêncio).
OM: Está direito...
Quando voltamos, algumas horas depois, à presença de Lampião, já este se encontrava instalado em casa do historiador brasileiro João Mendes de Oliveira.
Rompida, novamente, a custo, a enorme massa popular que estacionava defronte à casa, penetramos por um portão de ferro, onde veio Lampião ao nosso encontro, dizendo:
L: Vamos para o sótão, onde conversaremos melhor.
Subimos uma escadaria de pedra até o sótão. Aí notamos, seguramente, uns quarenta homens de Lampião, uns descansando em redes, outros conversando em grupos; todos, porém, aptos à luta imediata: rifle, cartucheiras, punhais e balas...
OM: Desejamos um autógrafo seu, Lampião.
L: Pois não.
Sentado próximo de uma mesa, o bandido pegou da pena e estacou, embaraçado.
L: Que qui escrevo?
OM: Eu vou ditar.
E Lampião escreveu com mãos firmes, caligrafia regular.
"Juazeiro, 6 de março de 1926
Para... e o Coronel...
Lembrança de EU.
Virgulino Ferreira da Silva.
Vulgo Lampião".
Os outros facínoras observavam-nos, com um misto de simpatia e desconfiança. Ao lado, como um cão de fila, velava o homem de maior confiança de Lampião, Sabino Gomes, seu lugar-tenente, mal-encarado.
L: É verdade, rapazes! Vocês vão ter os nomes publicados nos jornais em letras redondas...
A esta afirmativa, uns gozaram o efeito dela, porém parece que não gostaram da coisa.
OM: Agora, Lampião, pedimos para escrever os nomes dos rapazes de sua maior confiança.
L: Pois não. E para não melindrar os demais companheiros, todos me merecem igual confiança, entretanto poderia citar o nome dos companheiros que estão há mais tempo comigo.
E escreveu.
1 - Luiz Pedro
2 - Jurity
3 - Xumbinho
4 - Nuvueiro
5 - Vicente
6 - Jurema
E o estado maior:
1 - Eu, Virgulino Ferreira
2 - Antônio Ferreira
3 - Sabino Gomes.
Passada a lista para nossas mãos fizemos a "chamada" dos cabecilhas fulano, cicrano, etc.
Todos iam explicando a sua origem e os seus feitos. Quando chegou a vez de "Xumbinho", apresentou-se-nos um rapazola, quase preto, sorridente, de 18 anos de idade.
OM: É verdade, "Xumbinho"! Você, rapaz tão moço, foi incluído por Lampião na lista dos seus melhores homens... Queremos que você nos ofereça uma lembrança...
"Xumbinho" gozou o elogio. Todo humilde, tirou da cartucheira uma bala e nos ofereceu como lembrança...
OM: No caso de insucesso com a polícia, quem o substituirá como chefe do bando?
L: Meu irmão Antônio Ferreira ou Sabino Gomes...
OM: Os jornais disseram, ultimamente, que o tenente Optato, da polícia pernambucana, tinha entrado em luta com o grupo, correndo a notícia oficial da morte de Lampião.
L: É, o tenente é um "corredor", ele nunca fez a diligência de se encontrar "com nós"; nós é que lhe matemos alguns soldados mais afoitos.
OM: E o cel. João Nunes, comandante geral da polícia de Pernambuco, que também já esteve no seu encalço?
L: Ah, este é um "velho frouxo", pior do que os outros...
Neste momento chegou ao sótão uma "romeira" velha, conduzindo um presente para Lampião. Era um pequeno "registro" e um crucifixo de latão ordinário. "Velinha", apresentando as imagens: "Está aqui, seu coroné Lampião, que eu truve para vomecê".
L: Este santo livra a gente de balas? Só me serve si for santo milagroso.
Depois, respeitosamente, beijou o crucifixo e guardou-o no bolso. Em seguida tirou da carteira um nota de 10$000 e gorgetou a romeira.
OM: Que importância já distribuiu com o povo do Juazeiro?
L: Mais de um conto de réis.
Lampião começou por identificar-se:
L: Chamo-me Virgulino Ferreira da Silva e pertenço à humilde família Ferreira do Riacho de São Domingos, município de Vila Bela. Meu pai, por ser constantemente perseguido pela família Nogueira e em especial por Zé Saturnino, nossos vizinhos, resolveu retirar-se para o município de Águas Brancas, no estado de Alagoas. Nem por isso cessou a perseguição. Em Águas Brancas, foi meu pai, José Ferreira, barbaramente assassinado pelos Nogueira e Saturnino, no ano de 1917. Não confiando na ação da justiça pública, por que os assassinos contavam com a escandalosa proteção dos grandes, resolvi fazer justiça por minha conta própria, isto é, vingar a morte do meu progenitor. Não perdi tempo e resolutamente arrumei-me e enfrentei a luta. Não escolhi gente das famílias inimigas para matar, e efetivamente consegui dizimá-las consideravelmente.
Sobre os grupos a que pertenceu:
L: Já pertenci ao grupo de Sinhô Pereira, a quem acompanhei durante dois anos. Muito me afeiçoei a este meu chefe, porque é um leal e valente batalhador, tanto que se ele ainda voltasse ao cangaço iria ser seu soldado.
Sobre suas andanças e seus perseguidores:
L: Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, e uma pequena parte do Ceará. Com as polícias desses estados tenho entrado em vários combates. A de Pernambuco é disciplinada e valente, e muito cuidado me tem dado. A da Paraíba, porém, é uma polícia covarde e insolente. Atualmente existe um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências, muito se parecendo com a força paraibana.
Referindo-se a seus coiteiros, Lampião esclareceu:
L: Não tenho tido propriamente protetores. A família Pereira, de Pajeú, é que tem me protegido, mais ou menos. Todavia, conto por toda parte com bons amigos, que me facilitam tudo e me consideram eficazmente quando me acho muito perseguido pelos governos. Se não tivesse de procurar meios para a manutenção dos meus companheiros, poderia ficar oculto indefinidamente, sem nunca ser descoberto pelas forças que me perseguem. De todos meus protetores, só um traiu-me miseravelmente. Foi o coronel José Pereira Lima, chefe político de Princesa. É um homem perverso, falso e desonesto, a quem durante anos servi, prestando os mais vantajosos favores de nossa profissão.
A respeito de como mantém o grupo:
L: Consigo meios para manter meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força aos usuários que miseravelmente se negam de prestar-me auxílio.
Se estava rico?
L: Tudo quanto tenho adquirido na minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as vultuosas despesas do meu pessoal - aquisição de armas, convindo notar que muito tenho gasto, também, com a distribuição de esmolas aos necessitados.
A respeito do número de seus combates e de suas vítimas disse:
L: Não posso dizer ao certo o número de combates em que já estive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de duzentos. Também não posso informar com segurança o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira de meu rifle. Entretanto, lembro-me perfeitamente que, além dos civis, já matei três oficiais de polícia, sendo um de Pernambuco e dois da Paraíba. Sargentos, cabos e soldados, é impossível guardar na memória o número dos que foram levados para o outro mundo.
Sobre as perseguições e fugas deixou claro:
L: Tenho conseguido escapar à tremenda perseguição que me movem os governos, brigando como louco e correndo rápido como vento quando vejo que não posso resistir ao ataque. Além disso, sou muito vigilante, e confio sempre desconfiando, de modo que dificilmente me pegarão de corpo aberto. Ainda é de notar que tenho bons amigos por toda parte, e estou sempre avisado do movimento das forças. Tenho também excelente serviço de espionagem, dispendioso mas utilíssimo.
Seu comportamento mereceu alguns comentários bastante francos:
L: Tenho cometido violências e depredações vingando-me dos que me perseguem e em represália a inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias, por mais humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente.
Perguntado se deseja deixar essa vida:
L: Até agora não desejei, abandonar a vida das armas, com a qual já me acostumei e sinto-me bem. Mesmo que assim não sucedesse, não poderia deixá-la, porque os inimigos não se esquecem de mim, e por isso eu não posso e nem devo deixá-los tranquilos. Poderia retirar-me para um lugar longinguo, mas julgo que seria uma covardia, e não quero nunca passar por um covarde.
Sobre a classe da sua simpatia:
L: Gosto geralmente de todas as classes. Aprecio de preferência as classes conservadoras - agricultores, fazendeiros, comerciantes, etc., por serem os homens do trabalho. Tenho veneração e respeito pelos padres, porque sou católico. Sou amigo dos telegrafistas, porque alguns já me tem salvo de grandes perigos. Acato os juizes, porque são homens da lei e não atiram em ninguém. Só uma classe eu detesto: é a dos soldados, que são meus constantes perseguidores. Reconheço que muitas vezes eles me perseguem porque são sujeitos, e é justamente por isso que ainda poupo alguns quando os encontro fora da luta.
Perguntado sobre o cangaceiro mais valente do nordeste:
L: A meu ver o cangaceiro mais valente do nordeste foi Sinhô Pereira. Depois dele, Luiz Padre. Penso que Antonio Silvino foi um covarde, porque se entregou às forças do governo em consequência de um pequeno ferimento. Já recebi ferimentos gravíssimos e nem por isso me entreguei à prisão. Conheci muito José Inácio de Barros. Era um homem de planos, e o maior protetor dos cangaceiros do nordeste, em cujo convívio sentia-se feliz.
Questionado sobre ferimentos em combate, contou:
L: Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre estes, um na cabeça, do qual só por um milagre escapei. Os meus companheiros também, vários têm sido feridos. Possuímos, porém, no grupo, pessoas habilitadas para tratar dos ferimentos, de modo que sempre somos convenientemente tratados. Por isso, como o senhor vê, estou forte e perfeitamente sadio, sofrendo, raramente, ligeiros ataques reumáticos.
Sobre ter numeroso grupo:
L: Desejava andar sempre acompanhado de numeroso grupo. Se não o organizo conforme o meu desejo é porque me faltam recursos materiais para a compra de armamentos e para a manutenção do grupo - roupa, alimentação, etc. Estes que me acompanham é de quarenta e nove homens, todos bem armados e municiados, e muito me custa sustentá-los como sustento. O meu grupo nunca foi muito reduzido, tem variado sempre de quinze a cinquenta homens.
Sobre padre Cícero Lampião foi bem específico:
L: Sempre respeitei e continuo a respeitar o estado do Ceará, porque aqui não tenho inimigos, nunca me fizeram mal, e além disso é o estado do padre Cícero. Como deve saber, tenho a maior veneração por esse santo sacerdote, porque é o protetor dos humildes e infelizes, e sobretudo porque há muitos anos protege minhas irmãs, que moram nesta cidade. Tem sido para elas um verdadeiro pai. Convém dizer que eu ainda não conhecia pessoalmente o padre Cícero, pois esta é a primeira vez que venho a Juazeiro.
Em relação ao combate aos revoltosos:
L: Tive um combate com os revoltosos da coluna Prestes, entre São Miguel e Alto de Areias. Informado de que eles passavam por ali, e sendo eu um legalista, fui atacá-los, havendo forte tiroteio. Depois de grande luta, e estando com apenas dezoito companheiros, vi-me forçado a recuar, deixando diversos inimigos feridos.
A respeito de sua vinda ao Ceará:
L: Vim agora ao Cariri porque desejo prestar meus serviços ao governo da nação. Tenho o intuito de incorporar-me às forças patrióticas do Juazeiro, e com elas oferecer combate aos rebeldes. Tenho observando que, geralmente, as forças legalistas não têm planos estratégicos, e daí os insucessos dos seus combates, que de nada tem valido. Creio que se aceitassem meus serviços e seguissem meus planos, muito poderíamos fazer.
Sobre o futuro Lampião mostrou-se incerto, apesar de ter planos:
L: Estou me dando bem no cangaço, e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso trabalhar ainda uns três anos. Tenho de visitar alguns amigos, o que não fiz por falta de oportunidade. Depois, talvez me torne um comerciante.
Aqui termina a entrevista concedida por Lampião em Juazeiro.
Na despedida Lampião nos acompanhou até a porta. Pediu nosso cartão de visita e acrescentou:
L: Espero contar com os "votos" dos senhores em todo tempo!
OM: Que dúvida...
Como sabemos, Lampião, o "Rei do Cangaço", não viveu o suficiente para ver todos seus planos concretizados.
Fonte:
* http://www.sertaonet.com.br/lampiao/fala.html
4.10.09
Juazeiro x Crato: As Origens da Rivalidade
É comum ver um juazeirense e um cratense discutindo sobre qual cidade "é melhor". Em jogos de futebol entre os clubes de Juazeiro do Norte (Icasa e Guarani), e o time do Crato, as provocações das torcidas muitas vezes são direcionadas às cidades. O que hoje parece ser uma disputa sadia, antes foi motivo de embates furiosos e, no auge da rivalidade, a região deixou de receber diversos empreedimentos porque os investidores temiam se instalar em uma cidade e sofrer boicote da outra.
O início da rivalidade remonta ao século XIX, quando, após os acontecimentos miraculosos já abordados por este blog, a Igreja Católica iniciou uma campanha difamatória contra Padre Cícero e o então distrito de Tabuleiro Grande. Para se ter uma ideia da dimensão dos ataques eclesiásticos, em agosto de 1909, o Bispo auxiliar Manuel Lopes, em pregação na cidade do Crato, declarou: "Povo nobre e altivo do Crato, peço permissão para falar sobre o povo imundo de Juazeiro, que vive guiado por Satanás". Em reposta à frase do Bispo, a população de Juazeiro decretou uma greve geral à economia do Crato, não recolhendo impostos, suspendendo a venda de produtos agrícolas e industriais, além do não comparecimento ao trabalho (caso daqueles que laboravam no Crato).
A partir daí, surgiu o segundo e principal motivo para a rusga: a questão político-financeira. O jornal "O Rebate", criado em julho de 1909 para defender a emancipação de Juazeiro, intensificou a campanha e passou a realizar pesados ataques aos chefes políticos do Crato. O crescimento vertiginoso de Juazeiro aumentou consideravelmente a arrecadação de impostos e oferta de mão-de-obra, razão pela qual a emancipação do distrito estava fora de cogitação por parte da Prefeitura do Crato.
O movimento emancipacionista ganhou força em 1910, quando Padre Cícero abandonou a posição de neutralidade e enviou carta ao Governador Nogueira Accioly, requerendo a autonomia política de Juazeiro. No mesmo ano, houve uma passeata em prol do movimento, reunindo cerca de 15 mil simpatizantes.
Em 22 de julho de 1911, Juazeiro se tornou independente do Crato. Os poderes públicos dos dois municípios passaram a disputar investimentos públicos e privados, o que como dito antes, trouxe mais malefícios que benefícios. Em 1914, com a Sedição de Juazeiro, o município do Crato serviu de base para as forças rabelistas, motivo que acirrou ainda mais os ânimos e levou juazeirenses e cratenses às vias de fato. Aliás, os confrontos mais impiedosos que se tem notícia acerca da Sedição, ocorreram no Crato.
Com o passar dos anos, o clima hostil entre as duas cidades foi se dissipando, embora infelizmente ainda teime em existir. É preciso ter em mente que, juntas, as cidades do Cariri tem mais chances de atrair investimentos e se desenvolver do que se continuarem remoendo antigas desavenças.
Bibliografia:
* MATIAS, Aurélio. O Poder Político Em Juazeiro Do Norte – Mudanças e Permanências – as Eleições de 2000. Juazeiro do Norte: Gráfica Nobre, 2008.
* TOLEDO, Roberto Pompeu de. Quem tem medo de Frei Damião?. VEJA, São Paulo-SP, ano 30, p. 134, jun 1997
Micael François
O início da rivalidade remonta ao século XIX, quando, após os acontecimentos miraculosos já abordados por este blog, a Igreja Católica iniciou uma campanha difamatória contra Padre Cícero e o então distrito de Tabuleiro Grande. Para se ter uma ideia da dimensão dos ataques eclesiásticos, em agosto de 1909, o Bispo auxiliar Manuel Lopes, em pregação na cidade do Crato, declarou: "Povo nobre e altivo do Crato, peço permissão para falar sobre o povo imundo de Juazeiro, que vive guiado por Satanás". Em reposta à frase do Bispo, a população de Juazeiro decretou uma greve geral à economia do Crato, não recolhendo impostos, suspendendo a venda de produtos agrícolas e industriais, além do não comparecimento ao trabalho (caso daqueles que laboravam no Crato).
A partir daí, surgiu o segundo e principal motivo para a rusga: a questão político-financeira. O jornal "O Rebate", criado em julho de 1909 para defender a emancipação de Juazeiro, intensificou a campanha e passou a realizar pesados ataques aos chefes políticos do Crato. O crescimento vertiginoso de Juazeiro aumentou consideravelmente a arrecadação de impostos e oferta de mão-de-obra, razão pela qual a emancipação do distrito estava fora de cogitação por parte da Prefeitura do Crato.
O movimento emancipacionista ganhou força em 1910, quando Padre Cícero abandonou a posição de neutralidade e enviou carta ao Governador Nogueira Accioly, requerendo a autonomia política de Juazeiro. No mesmo ano, houve uma passeata em prol do movimento, reunindo cerca de 15 mil simpatizantes.
Em 22 de julho de 1911, Juazeiro se tornou independente do Crato. Os poderes públicos dos dois municípios passaram a disputar investimentos públicos e privados, o que como dito antes, trouxe mais malefícios que benefícios. Em 1914, com a Sedição de Juazeiro, o município do Crato serviu de base para as forças rabelistas, motivo que acirrou ainda mais os ânimos e levou juazeirenses e cratenses às vias de fato. Aliás, os confrontos mais impiedosos que se tem notícia acerca da Sedição, ocorreram no Crato.
Com o passar dos anos, o clima hostil entre as duas cidades foi se dissipando, embora infelizmente ainda teime em existir. É preciso ter em mente que, juntas, as cidades do Cariri tem mais chances de atrair investimentos e se desenvolver do que se continuarem remoendo antigas desavenças.
Bibliografia:
* MATIAS, Aurélio. O Poder Político Em Juazeiro Do Norte – Mudanças e Permanências – as Eleições de 2000. Juazeiro do Norte: Gráfica Nobre, 2008.
* TOLEDO, Roberto Pompeu de. Quem tem medo de Frei Damião?. VEJA, São Paulo-SP, ano 30, p. 134, jun 1997
Micael François
28.9.09
A Sedição de Juazeiro
Apesar de pouco conhecida e estudada, a Sedição de Juazeiro foi uma das passagens mais importantes da história do Ceará, adquirindo proporções nacionais na época. A origem da revolta remonta à "política das salvações" posta em prática pelo então Presidente Hermes da Fonseca, que promoveu intervenção em vários estados do país na tentativa de conter a "campanha civilista" idealizada pela oposição.
No Ceará, Franco Rabelo foi nomeado interventor em julho de 1912. Logo que assumiu o poder, Franco Rabelo procurou enfraquecer os coronéis do estado, conseguindo relativo êxito no início de sua gestão. Em Juazeiro, o Governador destituiu Padre Cícero do cargo de prefeito, nomeando em seu lugar, José André de Figueiredo. Em novembro de 1913, a Assembleia Legislativa decidiu se reunir em Juazeiro, tendo em vista que o Governador Rabelo não permitia que tal ato acontecesse em Fortaleza. Padre Cícero não tomou parte na Assembleia, mas ao ser informado da reunião, enviou carta ao Governador dando conta da situação e aconselhando sua renúncia. Franco Rabelo entendeu a reunião e a carta como provocações, ordenando a invasão a Juazeiro.
Quando Padre Cícero soube que militares marchavam rumo a Juazeiro, ordenou a construção de um valado para proteger a cidade. Em apenas seis dias, uma vala de aproximadamente nove quilômetros de extensão, oito de largura e cinco de profundidade foi cavada. Para o Monsenhor Murilo de Sá Barreto, tal construção, que recebeu o nome de "Círculo da Mãe de Deus", comprova que Padre Cícero nunca teve intenção de atacar, pois: "quem constrói valado, constrói para se defender".
Graças ao Círculo da Mãe de Deus, os militares foram repelidos. O Governador enviou um contingente ainda maior e armamento pesado, inclusive um canhão. Mesmo assim, as forças rabelistas não conseguiram transpor o fosso e foram obrigadas a bater em retirada. As frustradas tentativas de invasão abalaram o poder de Franco Rabelo, aproveitando-se disso, Floro Bartolomeu (ao lado), costurou alianças para derrubar o Governador. Diante das dimensões da Sedição de Juazeiro e por influência do senador Pinheiro Machado, o próprio Presidente Hermes da Fonseca decidiu apoiar Floro Bartolomeu e enviou navios da Marinha para Fortaleza.
É de se frisar que embora muitos imputem a Padre Cícero a liderança da Sedição de Juazeiro, esta coube a Floro Bartolomeu que declarou: "Apesar de todo o país saber que a revolução de Juazeiro foi um movimento de ordem política, com a qual foram moralmente solidários os altos poderes da república e que eu fui incubido de chefiá-lo pelos chefes políticos, e que unicamente dirigi toda a ação, ainda há quem, de má fé, queira dar a responsabilidade ao Padre Cícero". A historiadora Amália Xavier de Oliveira afirma que quando os juazeirenses decidiram atacar, Padre Cícero os orientou a respeitar os adversários e as coisas alheias, só devendo pegar o necessário para saciar a fome, entretanto, Floro Bartolomeu teria dito para fazer o que quisessem, pois "o vencedor tem direito ao que é do vencido".
Em 24 de janeiro de 1914, os juazeirenses tomaram a cidade do Crato após um confronto com os soldados remanescentes do grupo que tentara invadir Juazeiro. Três dias depois, Barbalha foi tomada sem oferecer resistência. Em fevereiro, houve novo confronto em Iguatu, onde novamente o grupo liderado por Floro Bartolomeu obteve vitória. Há registros de pilhagens e confrontos em outras cidades do estado, como Quixadá e Maranguape. Em 15 de março, os revoltosos chegaram em Fortaleza, onde a Marinha já havia imposto um bloqueio marítimo. Cercado, Franco Rabelo foi deposto, sendo substituído interinamente pelo comandante da Marinha Fernando Setembrino de Carvalho. Os revoltosos voltaram a Juazeiro e desocuparam as cidades invadidas. Algum tempo depois, foram realizadas eleições, sendo eleito Governador Benjamim Liberato Barroso e Vice-Governador Padre Cícero.
Bibliografia:
* CARIRY, Antonio: A Defesa Armada de Juazeiro. Brasília-DF: Usina das Letras. 2006
* OLIVEIRA, Amália Xavier de: O Padre Cícero Que Eu Conheci. Rio de Janeiro-RJ: Gráfica Olímpica Ltda. 1969
* SOBREIRA, Azarias: O Patriarca de Juazeiro. Petrópolis-RJ: Vozes: 1969
Micael François
No Ceará, Franco Rabelo foi nomeado interventor em julho de 1912. Logo que assumiu o poder, Franco Rabelo procurou enfraquecer os coronéis do estado, conseguindo relativo êxito no início de sua gestão. Em Juazeiro, o Governador destituiu Padre Cícero do cargo de prefeito, nomeando em seu lugar, José André de Figueiredo. Em novembro de 1913, a Assembleia Legislativa decidiu se reunir em Juazeiro, tendo em vista que o Governador Rabelo não permitia que tal ato acontecesse em Fortaleza. Padre Cícero não tomou parte na Assembleia, mas ao ser informado da reunião, enviou carta ao Governador dando conta da situação e aconselhando sua renúncia. Franco Rabelo entendeu a reunião e a carta como provocações, ordenando a invasão a Juazeiro.
Quando Padre Cícero soube que militares marchavam rumo a Juazeiro, ordenou a construção de um valado para proteger a cidade. Em apenas seis dias, uma vala de aproximadamente nove quilômetros de extensão, oito de largura e cinco de profundidade foi cavada. Para o Monsenhor Murilo de Sá Barreto, tal construção, que recebeu o nome de "Círculo da Mãe de Deus", comprova que Padre Cícero nunca teve intenção de atacar, pois: "quem constrói valado, constrói para se defender".
Graças ao Círculo da Mãe de Deus, os militares foram repelidos. O Governador enviou um contingente ainda maior e armamento pesado, inclusive um canhão. Mesmo assim, as forças rabelistas não conseguiram transpor o fosso e foram obrigadas a bater em retirada. As frustradas tentativas de invasão abalaram o poder de Franco Rabelo, aproveitando-se disso, Floro Bartolomeu (ao lado), costurou alianças para derrubar o Governador. Diante das dimensões da Sedição de Juazeiro e por influência do senador Pinheiro Machado, o próprio Presidente Hermes da Fonseca decidiu apoiar Floro Bartolomeu e enviou navios da Marinha para Fortaleza.
É de se frisar que embora muitos imputem a Padre Cícero a liderança da Sedição de Juazeiro, esta coube a Floro Bartolomeu que declarou: "Apesar de todo o país saber que a revolução de Juazeiro foi um movimento de ordem política, com a qual foram moralmente solidários os altos poderes da república e que eu fui incubido de chefiá-lo pelos chefes políticos, e que unicamente dirigi toda a ação, ainda há quem, de má fé, queira dar a responsabilidade ao Padre Cícero". A historiadora Amália Xavier de Oliveira afirma que quando os juazeirenses decidiram atacar, Padre Cícero os orientou a respeitar os adversários e as coisas alheias, só devendo pegar o necessário para saciar a fome, entretanto, Floro Bartolomeu teria dito para fazer o que quisessem, pois "o vencedor tem direito ao que é do vencido".
Em 24 de janeiro de 1914, os juazeirenses tomaram a cidade do Crato após um confronto com os soldados remanescentes do grupo que tentara invadir Juazeiro. Três dias depois, Barbalha foi tomada sem oferecer resistência. Em fevereiro, houve novo confronto em Iguatu, onde novamente o grupo liderado por Floro Bartolomeu obteve vitória. Há registros de pilhagens e confrontos em outras cidades do estado, como Quixadá e Maranguape. Em 15 de março, os revoltosos chegaram em Fortaleza, onde a Marinha já havia imposto um bloqueio marítimo. Cercado, Franco Rabelo foi deposto, sendo substituído interinamente pelo comandante da Marinha Fernando Setembrino de Carvalho. Os revoltosos voltaram a Juazeiro e desocuparam as cidades invadidas. Algum tempo depois, foram realizadas eleições, sendo eleito Governador Benjamim Liberato Barroso e Vice-Governador Padre Cícero.
Bibliografia:
* CARIRY, Antonio: A Defesa Armada de Juazeiro. Brasília-DF: Usina das Letras. 2006
* OLIVEIRA, Amália Xavier de: O Padre Cícero Que Eu Conheci. Rio de Janeiro-RJ: Gráfica Olímpica Ltda. 1969
* SOBREIRA, Azarias: O Patriarca de Juazeiro. Petrópolis-RJ: Vozes: 1969
Micael François
20.9.09
A Lenda dos Karyrys
Depois de um artigo que prima pelos argumentos lógicos, e baseado quase que unicamente na obra Efemérides do Cariri, sinto-me na obrigação, até pela influência Ariana (“Suassúnica”), tal como Dom Pedro Quadrena, de escrever também o outro lado, mais charmoso, mais emocionante, inspirado dessa vez por João Brígido.
Diz a lenda que perto do ano de 1660, um representante da Casa da Torre, alcunhado Medrado, teve um de seus escravos, um menino negro, raptado por um grupo de índios. O garoto foi trazido ao Cariri e criado pelos índigenas que ensinaram a língua e os costumes. Mesmo assim, a criança já havia incorporado muito do costume branco, e isso era apreciado pelos nativos. O tempo passou e já na década de 1680, ou talvez já no início de 1690, os Karyrys, que viviam em constante conflito territorial com as tribos dos Inhamuns, Calabaças e Cariús se viram ameaçados por uma aliança que se formava entre seus rivais.
Em um momento de inspiração, o Negrinho (agora já um homem feito), deu a seguinte ideia: ele iria acompanhado por um grupo de índios pedir ajuda de seus antigo dono. Em menor número os bravos guerreiros Karyrys foram obrigados a aceitar o plano e assim o fizeram. Quando chegaram à casa de Medrado, o branco reconheceu seu escravo raptado, e depois de conversar com o herói da história, empolgado com as riquezas naturais descritas, juntou o mais rápido que pôde uma bandeira composta por duzentos homens de sua confiança. A marcha, guiada pelos índios e pelo negro não demorou a chegar e na travessia do chapadão trilharam caminhos seguros.
Durante todo o tempo, o negro serviu de intérprete entre brancos e índios. A estratégia adotada foi a seguinte: os ataques seriam rápidos e de surpresa; atacariam sempre em horários pouco prováveis; cada comunidade de índios rivais seria cercada e atacada; não era permitido piedade. Em Cachoeira, hoje Missão Velha, aconteceu um dos ataqueis mais cruéis. Homens, velhos e crianças forma mortos no local e os Karyrys se banqueteavam com as víceras dos guerreiros mais bravos. As mulheres e moças foram levadas para a cachoeira e jogadas do ponto mais alto.
Foi outro ataque, porém, que mudaria para sempre a história local. Em um cerco próximo ao que hoje é o centro de Barbalha, a aliança de brancos e nativos seguia seu ataque como de costume, até que encontraram, deitado em uma rede e acompanhado de belas índias, um branco. Era um bandido desterrado de Salvador, conhecido por Ariosa, que havia chegado por essas bandas. Compadecidos pelo fim trágico a que estava condenado o lusitano, já que era aliado da tribo rival, seus compatriotas prenderam-no e o Karyrys pouparam sua vida.
Ariosa, contudo, não demorou a convencer o líder da Bandeira a deixá-lo fugir. Livre, o bandido correu até Salvador e conseguir embarcar para Portugal. Em terras lusitanas foi até a Corte e relatou as terras que havia descoberto. Empolgados com o Oásis em meio à Caatinga, os nobres acharam por bem perdoar os crimes de Ariosa e o presentearam com uma Sesmaria.
Talvez venha daí o mal costume generalizado em todo o Brasil de se dar um “jeitinho” de premiar o banditismo.
Incomodados com as vantagens concedidas a Ariosa, a Casa da Torre perdeu o interesse no Cariri e Medrado, desceu o rio Salgado com sua bandeira até outro acampamento dos Cariús, hoje a cidade de Icó, onde fundaram um aldeamento. Mesmo assim, não perderam a oportunidade de tirar uma "lasquinha". Os Lobatos, principalmente a esposa de Antônio Mendes Lobato, eram protegidos da Casa da Torre, e foram, no papel, os primeiros a receber uma Sesmaria das terras caririenses. Ariosa ficou com uma Sesmaria na atual cidade de Porteiras, antigamente Lagoa do Ariosa.
Católicos, os Lobatos receberam pouco depois de 1708 frades Capuchinhos que formaram o primeiro povoado, Missão Velha. Em 1724 ou 25, tangidos por uma forte seca, encontraram temporariamente, duas léguas acima, um local próprio para habitar. Nasceu aí Missão Nova. Acredita-se ainda, que a seca também foi o motivo para a fundação da Missão do Miranda, hoje Crato. Ouros acreditam que não, acontece que no Crato havia a maior concentração de índios da região, e o interesse os capuchinhos era justamente a catequese dos selvagens. Bem verdade também que muitos dos religiosos estavam cheios de segundas intenções e deveria haver bons motivos para a alta densidade de nativos naquelas bandas. Contudo, todas as explicações sobre a ocupação do Crato podem ser resumidas em uma frase "Oh terra boa, meu Deus".
Outro detalhe folclórico sobre a ocupação do Crato é que os catequistas queriam fundar a cidade às margens do rio Batateiras. Porém, a imagem de Nossa Senhora sumia constantemente, aparecendo onde hoje é a atual Igreja da Sé. Acreditando que fosse alguma brincadeira dos índios, os padres puniam aqueles com mais pinta de líderes e traziam de volta para a sede da missão. Curiosos com os sumiços da Santa, porém, decidiram vigiá-la com maior cuidado. Mesmo assim ela desapareceu e voltou ao mesmo lugar de sempre. Convencidos do milagre, e da vontade divina, os frades acharam mais fácil eles acompanharem a imagem do que impor sua vontade. Não demorou e o Crato logo se tornou o centro da região, perdendo o posto apenas em 1914, mas isso já é outra história.
Bibliografia:
*BRÍGIDO, João. Apontamentos para história do Cariri. Edição reproduzida do Diário de Pernambuco de 1961, fac-similar. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora Ltda., 2007.
Willian II
Diz a lenda que perto do ano de 1660, um representante da Casa da Torre, alcunhado Medrado, teve um de seus escravos, um menino negro, raptado por um grupo de índios. O garoto foi trazido ao Cariri e criado pelos índigenas que ensinaram a língua e os costumes. Mesmo assim, a criança já havia incorporado muito do costume branco, e isso era apreciado pelos nativos. O tempo passou e já na década de 1680, ou talvez já no início de 1690, os Karyrys, que viviam em constante conflito territorial com as tribos dos Inhamuns, Calabaças e Cariús se viram ameaçados por uma aliança que se formava entre seus rivais.
Em um momento de inspiração, o Negrinho (agora já um homem feito), deu a seguinte ideia: ele iria acompanhado por um grupo de índios pedir ajuda de seus antigo dono. Em menor número os bravos guerreiros Karyrys foram obrigados a aceitar o plano e assim o fizeram. Quando chegaram à casa de Medrado, o branco reconheceu seu escravo raptado, e depois de conversar com o herói da história, empolgado com as riquezas naturais descritas, juntou o mais rápido que pôde uma bandeira composta por duzentos homens de sua confiança. A marcha, guiada pelos índios e pelo negro não demorou a chegar e na travessia do chapadão trilharam caminhos seguros.
Durante todo o tempo, o negro serviu de intérprete entre brancos e índios. A estratégia adotada foi a seguinte: os ataques seriam rápidos e de surpresa; atacariam sempre em horários pouco prováveis; cada comunidade de índios rivais seria cercada e atacada; não era permitido piedade. Em Cachoeira, hoje Missão Velha, aconteceu um dos ataqueis mais cruéis. Homens, velhos e crianças forma mortos no local e os Karyrys se banqueteavam com as víceras dos guerreiros mais bravos. As mulheres e moças foram levadas para a cachoeira e jogadas do ponto mais alto.
Foi outro ataque, porém, que mudaria para sempre a história local. Em um cerco próximo ao que hoje é o centro de Barbalha, a aliança de brancos e nativos seguia seu ataque como de costume, até que encontraram, deitado em uma rede e acompanhado de belas índias, um branco. Era um bandido desterrado de Salvador, conhecido por Ariosa, que havia chegado por essas bandas. Compadecidos pelo fim trágico a que estava condenado o lusitano, já que era aliado da tribo rival, seus compatriotas prenderam-no e o Karyrys pouparam sua vida.
Ariosa, contudo, não demorou a convencer o líder da Bandeira a deixá-lo fugir. Livre, o bandido correu até Salvador e conseguir embarcar para Portugal. Em terras lusitanas foi até a Corte e relatou as terras que havia descoberto. Empolgados com o Oásis em meio à Caatinga, os nobres acharam por bem perdoar os crimes de Ariosa e o presentearam com uma Sesmaria.
Talvez venha daí o mal costume generalizado em todo o Brasil de se dar um “jeitinho” de premiar o banditismo.
Incomodados com as vantagens concedidas a Ariosa, a Casa da Torre perdeu o interesse no Cariri e Medrado, desceu o rio Salgado com sua bandeira até outro acampamento dos Cariús, hoje a cidade de Icó, onde fundaram um aldeamento. Mesmo assim, não perderam a oportunidade de tirar uma "lasquinha". Os Lobatos, principalmente a esposa de Antônio Mendes Lobato, eram protegidos da Casa da Torre, e foram, no papel, os primeiros a receber uma Sesmaria das terras caririenses. Ariosa ficou com uma Sesmaria na atual cidade de Porteiras, antigamente Lagoa do Ariosa.
Católicos, os Lobatos receberam pouco depois de 1708 frades Capuchinhos que formaram o primeiro povoado, Missão Velha. Em 1724 ou 25, tangidos por uma forte seca, encontraram temporariamente, duas léguas acima, um local próprio para habitar. Nasceu aí Missão Nova. Acredita-se ainda, que a seca também foi o motivo para a fundação da Missão do Miranda, hoje Crato. Ouros acreditam que não, acontece que no Crato havia a maior concentração de índios da região, e o interesse os capuchinhos era justamente a catequese dos selvagens. Bem verdade também que muitos dos religiosos estavam cheios de segundas intenções e deveria haver bons motivos para a alta densidade de nativos naquelas bandas. Contudo, todas as explicações sobre a ocupação do Crato podem ser resumidas em uma frase "Oh terra boa, meu Deus".
Outro detalhe folclórico sobre a ocupação do Crato é que os catequistas queriam fundar a cidade às margens do rio Batateiras. Porém, a imagem de Nossa Senhora sumia constantemente, aparecendo onde hoje é a atual Igreja da Sé. Acreditando que fosse alguma brincadeira dos índios, os padres puniam aqueles com mais pinta de líderes e traziam de volta para a sede da missão. Curiosos com os sumiços da Santa, porém, decidiram vigiá-la com maior cuidado. Mesmo assim ela desapareceu e voltou ao mesmo lugar de sempre. Convencidos do milagre, e da vontade divina, os frades acharam mais fácil eles acompanharem a imagem do que impor sua vontade. Não demorou e o Crato logo se tornou o centro da região, perdendo o posto apenas em 1914, mas isso já é outra história.
Bibliografia:
*BRÍGIDO, João. Apontamentos para história do Cariri. Edição reproduzida do Diário de Pernambuco de 1961, fac-similar. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora Ltda., 2007.
Willian II
14.9.09
O Suposto Milagre
Em 06 de março de 1889, primeira sexta-feira da Quaresma, Padre Cícero ministrava a comunhão a um grupo de fiéis, quando ao chegar a vez de Maria de Aaújo, a hóstia transmutou-se em sangue na boca da beata, e estigmas semelhantes ao de Cristo apareceram em seu corpo. O fenômeno se repetiu por diversas oportunidades, sempre com a beata Maria de Araújo (ao lado).
Milagre ou embuste? A pedido do próprio Padre Cícero, o Bispo Dom Joaquim enviou uma comissão para apurar os fatos. O grupo era composto por Marcos Rodrigues Madeira (médico), Ildefonso Correia Lima (médico e professor da Faculdade do Rio de Janeiro), Joaquim Secundo Chaves (farmacêutico), além de diversos padres da região. Os médicos Marcos Rodrigues e Idelfonso Correia escreveram atestados onde contam com riqueza de detalhes a "investigação" do caso.
Dr. Marcos Rodrigues conta que: "(...) Não contente com os exames antecedentes mandei que lhe fizesse diversos gargarejos em minha vista, os que depois de eliminados não apresentava coloração alguma de sangue ou de outra matéria corante qualquer. Sem deixá-la mais de vista acompanhei-a até a Igreja, onde examinei a âmbula e partículas n'ella existentes (...)". Dr. Idelfonso Correia complementa que: "(...) mandei que ella vascolejasse água pura na bocca e depositasse-a depois em um prato de vidro, onde verifiquei não haver mudança alguma da cor do líquido, denunciável à vista (...)".
Após presenciar a transformação da hóstia, Dr. Ildefonso Correia afirmou: "(...) facto da ordem dos observados não podem ser explicados pelo jogo natural dos agentes naturaes, sendo forçoso acceitar a intervenção de um agente inteligente occulto que represente a causa, o qual, no caso em questão, acredito em ser Deus (...)". Já Dr. Marcos Rodrigues é categórico ao afirmar que acreditava em embuste, mas mudou de opinião ao ver pessoalmente o fenômeno: "(...) Muitos factos semelhantes se têm dado no Joazeiro e para verifica-los era mister que o Exmo. Bispo Diocesano viesse a esta localidade, si não acreditar, como eu até pouco tempo, na sua veracidade, apezar do testemunho quase diário de centenas de pessoas (...)".
Entretanto, a Diocese relutava em aceitar o milagre. Conta-se que o Padre Chevallier (reitor do Seminário da Prainha e assessor de Dom Joaquim), teria dito: "Jesus Cristo não vai deixar a França para obrar milagres no Brasil". Assim, o Bispo enviou uma nova comissão para apurar os fatos, comissão esta liderada pelos padres Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido, ambos de confiança do Bispo. Quando o Padre Alexandrino de Alencar ministrou a comunhão a Maria de Araújo, nada ocorreu. A beata disse que o fênomeno não ocorreu porque o Padre Alexandrino era homem de pouca fé. O comentário rendeu à beata palmatórias e enclausuramento, enquanto ao Padre Cícero suspensão de suas ordens sacerdotais.
Uma terceira hipótese, levantada, na época, pelo Dr. Júlio César da Fonseca Filho, afirmava que o fenômeno não era milagre nem embuste, mas sim, fruto de uma crise de histerismo de Maria de Araújo. Tal posicionamento foi resgatado recentemente pela parapsicóloga Drª. Maria do Carmo Pagan Forti que afirma tratar-se o fenômeno de resultado da influência do psiquismo sobre o organismo, ou seja, a imaginação emotiva da beata gerou o sangue e estigmas.
Bibliografia:
* BARBOSA, Geraldo Meneses. Relíquia: o mistério do sangue das hóstias de Juazeiro do Norte. Juazeiro do Norte: Gráfica e Editora Royal, 2004.
* FORTI, Maria do Carmo Pagan. Maria do Juazeiro: a beata do milagre. São Paulo: Annablume, 1999.
Micael François
7.9.09
Certidão de Nascimento
Controvertido e incerto é o tema quanto a data de "descobrimento" do Cariri. Há várias teorias e poucas provas. Mas como não estamos em um tribunal, tais provas não farão tanta diferença assim.
Certo mesmo é que a região, verdadeiro oásis cercado pelo sertão semi-árido nordestino era ocupado por considerável população indígena, formada principalmente pelos índios Karyris, que inclusive deram nome à região. Quando partimos, porém, para o exame da chegada dos colonizadores, a água cristalina fica turva.
O primeiro grande debate está relacionado a como os desbravadores chegaram. A maioria acredita que chegaram pelo leste, vindos da Paraíba. Tal teoria é reforçada pelo fato da Chapada do Araripe ser grande obstáculo à chegada dos colonizadores vindos do sul, ou seja, do Pernambuco (conforme visto no mapa). Em Efemérides do Cariri, porém, Irineu Pinheiro defende que a região plana que predomina no alto do planalto não consistiu em tão grande entrave para diminuir a curiosidade e vontade daqueles que ávidos por terras ricas e minerais preciosos se dispunham a ir a lugares tão longe dos grandes centros daquela época. Observando, contudo, que as primeiras sesmarias foram doadas vindo do que hoje é Missão Velha, em direção ao atual território Crato, na minha opinião é caso claro de Leste 1 x 0 Sul, final de jogo.
Há ainda quem atribua a descoberta dessa região naturalmente abençoada pela Casa da Torre dos Garcia d’Ávila. Mais uma vez, estamos diante de pequenos comentários orais passados de geração em geração que afirmam ter visto os símbolos daquela grande holding do negócio colonial brasileiro nos primórdios da ocupação Caririense. Não há contudo documentos escritos, e isso inclui nenhuma concessão de sesmarias aos representantes da Casa da Torre das terras desse torrão. Acho então que é ponto para o "pequeno empreendedor".
Depois do "como" e parte do "quem", resta o "quando". Duas teorias: a) os colonizadores chegaram aqui em algum ponto do final do século XVII; b) a "civilização" chegou aqui só depois de 1702, data em que foi concedida a primeira sesmaria. Ouso aqui dizer que a dúvida é boba. Dois motivos sustentam meu parecer. Primeiro não há lógica em se pedir a concessão de "registros de imóveis" antes de conhecer o terreno. Segundo, e mais importante (já que lógica portuguesa não é bem meu forte, ou lógica o forte deles), o documento oficial emitido pelo capitão-mor Francisco Gil Ribeiro a Gil de Miranda e Antônio Mendes Lobato informava os limites da sesmaria. Para amenizar a situação, porém, podemos supor que o colonizador passou por aqui ainda no século XVII, mas a partir de 1702 passou a se fixar por essas bandas.
Mas se querem uma data certa para cantar "parabéns pra você", podem usar o dia 28 de fevereiro de 1702. E foi Cachoeira, ou Missão Velha, o "onde". Ao longo do tempo, muitas outras sesmarias foram sendo concedidas, e por incrível que possa parecer a alguns, essa canto que hoje exporta gente para os quatro cantos do mundo, foi importante centro de atração de imigrantes. Com isso vieram as vilas e municípios, que serão tratados posteriormente.
E é assim, em meio a tantas incertezas que teve início a construção do atual Cariri, talvez tão incerto quanto o nosso futuro. Até breve.
Bibliografia:
* PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1963.
Willian II
Certo mesmo é que a região, verdadeiro oásis cercado pelo sertão semi-árido nordestino era ocupado por considerável população indígena, formada principalmente pelos índios Karyris, que inclusive deram nome à região. Quando partimos, porém, para o exame da chegada dos colonizadores, a água cristalina fica turva.
O primeiro grande debate está relacionado a como os desbravadores chegaram. A maioria acredita que chegaram pelo leste, vindos da Paraíba. Tal teoria é reforçada pelo fato da Chapada do Araripe ser grande obstáculo à chegada dos colonizadores vindos do sul, ou seja, do Pernambuco (conforme visto no mapa). Em Efemérides do Cariri, porém, Irineu Pinheiro defende que a região plana que predomina no alto do planalto não consistiu em tão grande entrave para diminuir a curiosidade e vontade daqueles que ávidos por terras ricas e minerais preciosos se dispunham a ir a lugares tão longe dos grandes centros daquela época. Observando, contudo, que as primeiras sesmarias foram doadas vindo do que hoje é Missão Velha, em direção ao atual território Crato, na minha opinião é caso claro de Leste 1 x 0 Sul, final de jogo.
Há ainda quem atribua a descoberta dessa região naturalmente abençoada pela Casa da Torre dos Garcia d’Ávila. Mais uma vez, estamos diante de pequenos comentários orais passados de geração em geração que afirmam ter visto os símbolos daquela grande holding do negócio colonial brasileiro nos primórdios da ocupação Caririense. Não há contudo documentos escritos, e isso inclui nenhuma concessão de sesmarias aos representantes da Casa da Torre das terras desse torrão. Acho então que é ponto para o "pequeno empreendedor".
Depois do "como" e parte do "quem", resta o "quando". Duas teorias: a) os colonizadores chegaram aqui em algum ponto do final do século XVII; b) a "civilização" chegou aqui só depois de 1702, data em que foi concedida a primeira sesmaria. Ouso aqui dizer que a dúvida é boba. Dois motivos sustentam meu parecer. Primeiro não há lógica em se pedir a concessão de "registros de imóveis" antes de conhecer o terreno. Segundo, e mais importante (já que lógica portuguesa não é bem meu forte, ou lógica o forte deles), o documento oficial emitido pelo capitão-mor Francisco Gil Ribeiro a Gil de Miranda e Antônio Mendes Lobato informava os limites da sesmaria. Para amenizar a situação, porém, podemos supor que o colonizador passou por aqui ainda no século XVII, mas a partir de 1702 passou a se fixar por essas bandas.
Mas se querem uma data certa para cantar "parabéns pra você", podem usar o dia 28 de fevereiro de 1702. E foi Cachoeira, ou Missão Velha, o "onde". Ao longo do tempo, muitas outras sesmarias foram sendo concedidas, e por incrível que possa parecer a alguns, essa canto que hoje exporta gente para os quatro cantos do mundo, foi importante centro de atração de imigrantes. Com isso vieram as vilas e municípios, que serão tratados posteriormente.
E é assim, em meio a tantas incertezas que teve início a construção do atual Cariri, talvez tão incerto quanto o nosso futuro. Até breve.
Bibliografia:
* PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1963.
Willian II
1.9.09
O Pacto dos Coronéis
Em 1911, a oligarquia Accioly dava sinais de declínio e as constantes disputas internas enfraqueciam ainda mais o bloco coronelista. Então, em 04 de outubro de 1911, líderes políticos de dezessete localidades do interior cearense se reuniram em Juazeiro para firmar um pacto de harmonia entre si e apoio incondicional a Nogueira Accioly (ao lado).
Estiveram presentes na reunião e assinaram o pacto, que foi posteriormente registrado em cartório, os líderes políticos de Missão Velha, Crato, Juazeiro, Araripe, Jardim, Santana do Cariri, Assaré, Várzea Alegre, Campos Sales, São Pedro do Cariri (Caririaçu), Aurora, Milagres, Porteiras, Lavras da Mangabeira, Barbalha, Quixadá e Brejo Santo.
Tal acordo é considerado um dos acontecimentos mais importantes do coronelismo brasileiro, mas não cumpriu os objetivos que pretendia, visto que alguns meses depois Franco Rabelo assumiu o cargo de Presidente do Ceará (atualmente chamado Governador), sem que os signatários do pacto reagissem. Além do mais, em 1914, quando Franco Rabelo decidiu invadir Juazeiro, os demais pactuantes não ajudaram a defender a cidade como estava previsto no artigo 8º do pacto, pelo contrário, algumas entraram em confronto com Juazeiro como, por exemplo, Crato.
Dessa maneira, o fracassado acordo serviu apenas como marco histórico para demonstrar as ambíguas relações de poder daquela época.
Eis o “Pacto dos Coronéis” em sua íntegra:
Aos quatro dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e onze, nesta vila de Juazeiro do Padre Cícero, Município do mesmo nome, Estado do Ceará, no paço da Câmara Municipal, compareceram à uma hora da tarde os seguintes chefes políticos: Coronel Antônio Joaquim de Santana, chefe do Município de Missão Velha; Coronel Antônio Luís Alves Pequeno, chefe do Município do Crato; Reverendo Padre Cícero Romão Batista, chefe do Município do Juazeiro; Coronel Pedro Silvino de Alencar, chefe do Município de Araripe; Coronel Romão Pereira Filgueira Sampaio, chefe do Município de Jardim; Coronel Roque Pereira de Alencar, chefe do Município de Santana do Cariri; Coronel Antônio Mendes Bezerra, chefe do Município de Assaré; Coronel Antônio Correia Lima, chefe do Município de Várzea Alegre; Coronel Raimundo Bento de Sousa Baleco, chefe do Município de Campos Sales; Reverendo Padre Augusto Barbosa de Meneses, chefe do Município de São Pedro de Cariri; Coronel Cândido Ribeiro Campos, chefe do Município de Aurora; Coronel Domingos Leite Furtado, chefe do Município de Milagres, representado pelos ilustres cidadãos Coronel Manuel Furtado de Figueiredo e Major José Inácio de Sousa; Coronel Raimundo Cardoso dos Santos, chefe do Município de Porteiras, representado pelo Reverendo Padre Cícero Romão Batista; Coronel Gustavo Augusto de Lima, chefe do Município de Lavras, representado por seu filho, João Augusto de Lima; Coronel João Raimundo de Macedo, chefe do Município de Barbalha, representado por seu filho, Major José Raimundo de Macedo, e pelo juiz de direito daquela comarca, Dr. Arnulfo Lins e Silva; Coronel Joaquim Fernandes de Oliveira, chefe do Município de Quixadá, representado pelo ilustre cidadão major José Alves Pimentel; e o Coronel Manuel Inácio de Lucena, chefe do Município de Brejo dos Santos, representado pelo Coronel Joaquim de Santana.A convite deste, que, assumindo a presidência da magna sessão, logo deixou, ocupou-a o Reverendo Padre Cícero Romão Batista, para em seu nome declarar o motivo que aqui os reunia. Ocupada a presidência pelo Reverendo Padre Cícero, fora chamado o Major Pedro da Costa Nogueira, tabelião e escrivão da cidade de Milagres, que também se achava presente. Declarou o presidente que, aceitando a honrosa incumbência confiada pelo seu prezado e prestigioso amigo Coronel Antônio Joaquim de Santana, chefe de Missão Velha, e traduzindo os sentimentos altamente patrióticos do egrégio chefe político, Excelentíssimo Senhor Doutor Antônio Pinto Nogueira Acioli, que sentia d'alma as discórdias existentes entre alguns chefes políticos desta zona, propunha que, para desaparecer por completo esta hostilidade pessoal, se estabelecesse definitivamente uma solidariedade política entre todos, a bem da organização do partido, os adversários se reconciliassem e ao mesmo tempo lavrassem todos um pacto de harmonia política. Disse mais que, para que ficasse gravado este grande feito na consciência de todos e de cada um de per si, apresentava e submetia à discussão e aprovação subseqüente os seguintes artigos de fé política: Art. 1° Nenhum chefe protegerá criminosos do seu município nem dará apoio nem guarida aos dos municípios vizinhos, devendo pelo contrário ajudar a captura destes, de acordo com a moral e o direito. Art. 2° Nenhum chefe procurará depor outro chefe, seja qual for a hipótese. Art. 3° Havendo em qualquer dos municípios reações, ou, mesmo, tentativas contra o chefe oficialmente reconhecido com o fim de depô-lo, ou de desprestigiá-lo, nenhum dos chefes dos outros municípios intervirá nem consentirá que os seus municípios intervenham ajudando direta ou indiretamente os autores da reação. Art. 4° Em casos tais só poderá intervir por ordem do Governo para manter o chefe e nunca para depor. Art. 5° Toda e qualquer contrariedade ou desinteligência entre os chefes presentes será resolvida amigavelmente por um acordo, mas nunca por um acordo de tal ordem, cujo resultado seja a deposição, a perda de autoridade ou de autonomia de um deles. Art. 6° E nessa hipótese, quando não puderem resolver pelo fato de igualdade de votos de duas opiniões, ouvir-se-á o Governo, cuja ordem e decisão será respeitada e estritamente obedecida. Art. 7° Cada chefe, a bem da ordem e da moral política, terminará por completo a proteção a cangaceiros, não podendo protegê-los e nem consentir que os seus munícipes, seja sob que pretexto for, os protejam dando-lhes guarida e apoio. Art. 8° Manterão todos os chefes aqui presentes inquebrantável solidariedade não só pessoal como política, de modo que haja harmonia de vistas entre todos, sendo em qualquer emergência "um por todos e todos por um", salvo em caso de desvio da disciplina partidária, quando algum dos chefes entenda de colocar-se contra a opinião e ordem do chefe do partido, o Excelentíssimo Doutor Antônio Pinto Nogueira Acioli. Nessa última hipótese, cumpre ouvirem e cumprirem as ordens do Governo e secundarem-no nos seus esforços para manter intacta a disciplina partidária. Art. 9° Manterão todos os chefes incondicional solidariedade com o Excelentíssimo Doutor Antônio Pinto Nogueira Acioli, nosso honrado chefe, e como políticos disciplinados obedecerão incondicionalmente suas ordens e determinações. Submetidos a votos, foram todos os referidos artigos aprovados, propondo unanimemente todos que ficassem logo em vigor desde essa ocasião.Depois de aprovados, o Padre Cícero levantando-se declarou que, sendo de alto alcance o pacto estabelecido, propunha que fosse lavrado no Livro de Atas desta municipalidade todo o ocorrido, para por todos os chefes ser assinado, e que se extraísse uma cópia da referida ata para ser registrada nos livros das municipalidades vizinhas, bem como para ser remetida ao Doutor Presidente do Estado, que deverá ficar ciente de todas as resoluções tomadas, o que foi feito por aprovação de todos e por todos assinado.Eu, Pedro da Costa Nogueira, secretário, a escrevi.Padre Cícero Romão Batista - Antônio Luís Alves Pequeno - Antônio Joaquim de Santana - Pedro Silvino de Alencar - Romão Pereira Filgueira Sampaio - Roque Pereira de Alencar - Antônio Mendes Bezerra - Antônio Correia Lima - Raimundo Bento de Sousa Baleco - Padre Augusto Barbosa de Meneses - Cândido de Ribeiro Campos - Manuel Furtado de Figueiredo - José Inácio de Sousa - João Augusto de Lima - Arnulfo Lins e Silva - José Raimundo de Macedo - José Alves Pimentel.
Bibliografia
* MACEDO, Joaryvar. Império do Bacamarte: uma abordagem sobre o Coronelismo no Cariri. 2 ed. Fortaleza: UFC, 1990.
* MATIAS, Aurélio. O Poder Político Em Juazeiro Do Norte – Mudanças e Permanências – as Eleições de 2000. Juazeiro do Norte: Gráfica Nobre, 2008.
Micael François
24.8.09
O Berço dos Coronéis
Ainda hoje o Cariri Cearense, é considerando um oásis no meio do sertão nordestino. Imagine quão rica era a biodiversidade nos tempos em que os primeiros frades fundaram a Missão do Miranda? Neste cenário, os colonizadores acharam condições propícias para o cultivo de cana-de-açúcar. Os engenhos de rapadura, bem como a criação de gado foram então as bases do desenvolvimento econômico da região, mas isso é cena dos próximos episódios.
Importante, porém, é constatar que por estes motivos, eram os senhores de engenho e criadores de gado os mandatários políticos do sul do Ceará naqueles tempos. Eram verdadeiros Barões da época feudal europeia. Homens geralmente de pouca instrução e adeptos ferrenhos dos costumes patriarcais da época.
A Igreja Católica sempre guardou sua reserva de poder. Quando não eram os próprios padres que detinham o poder econômico e político, sempre havia nas fazendas capelas e igrejas.
Não eram raros conflitos entre os detentores do poder. Assassinatos, roubos, pilhagens eram na verdade muito comuns em nossa região. Por isso, desde cedo uma voz falava mais alto que as outras no Cariri: “o Bacamarte”. Desde cedo, os nossos senhores feudais recorreram aos “cabras bons” para manter ou expandir os seus domínios. Isso é a base de um grande sentimento partidarista que dura até hoje. Delegados, promotores e juízes sempre foram coagidos pelos poderosos a aplicar a máxima “aos meus inimigos a lei, aos meus amigos a cumplicidade”.
Neste sentido interessante conhecer o relato de Gardner feito em 1838:
Os habitantes desta parte da província, geralmente conhecidos pelo cognome cariris, são famigerados no país por sua rebeldia às leis. Aqui foi e até certo ponto ainda é, embora em menor extensão, um esconderijo de assassinos e vagabundos de toda a espécie, vindos de todos os cantos do país. Embora haja um juiz de paz, um juiz de direito e outros representantes da lei, seu poder é muito limitado e, ainda assim, quando o exercem, correm o risco de tombar sob a faca do assassino.
Como já foi afirmado, esse banditismo era acoitado pelos mandatários políticos daqueles tempos. Neste sentido, vale a pena ver este trecho do Jornal "O Araripe" de 23 de fevereiro de 1960:
Aqui, um bando de salteadores, cobertos de armas veio fazer-se árbitro da vida e da fortuna dos cidadãos, ensangüentou a terra com bárbaras hecatombes humanas, levou o terror ao coração do mais resoluto; mas esses bárbaros não eram dos nossos. Nós éramos antes as primeiras vítimas votadas ao seu favor, e eles, os terríveis – Serenos – os apaniguados da polícia, que mimoseavam os senhores do dia, compareciam armados às orgias das autoridades, e pousavam os lábios impuros na mesma taça em que, entre brincos e alegrias, eles sorviam a cachaça, a grandes tragos! E quando eram um dia perseguidos por um militar valente e resoluto, que não podia curvar-se à imoralidade em triunfo, era da casa do chefe do partido saquarema que os bandidos saíam para as masmorras; eram o chefe dessa polícia quem se constituía o seu patrono, o seu amigo, o seu desvelado benfeitor.
Dentre muitos cangaceiros que exerciam o verdadeiro poder militar na região, alguns deles tornaram-se celebridades, entre eles podemos apontar: Gato Brabo, Jesuíno Brilhante (xilografura ao lado), Inocêncio Vermelho, Zuza Ataíde. Além de grupos como os Serenos e Xios (que agiam no Crato), os Viriatos, Meireles e Calangros (de Missão Velha).
Vale lembrar, ainda, não como desculpa, mas como constatação, que, em tal realidade, era praticamente impossível manter-se no poder sem formar seu próprio exército de cangaceiros. Logo, ser coiteiro, não era opção. Mandava quem tinha a melhor armada de “cabras bons”. E aqui cabe o dito popular que a diferença entre “Cabras” e “cobras” era só o “o”.
No período da Monarquia, com a divisão dos Senhores de engenho entre os partidos Liberal e Conservador, as disputas locais foram ainda mais acirradas, e o Cariri foi palco de verdadeiras guerras civis. Com exemplo o malogrado movimento que aconteceu no Crato em 1842 para derrubar do poder José Joaquim Coelho, por líderes oposicionistas. O movimento falhou por falta de recursos dos rebeldes.
Outro exemplo está bem claro nas palavras de Joaryavar Macedo:
Grande agitação reinou na região, dos fins de 1831 ao decorrer de 1832, quando se desenvolvera a guerra civil absolutistas, chefiada por Joaquim Pinto Madeira e mentoreada pelo vigário de Jardim, cônego Antônio Manuel de Sousa. As diversas escaramuças cruentas, entre os rebeldes e as forças legalistas trouxeram todo o vale em polvorosa, abrindo sulcos profundos no seio da coletividade caririense.
Toda esta agitação serviu de matéria prima para, com o advento da República, se consolidarem no poder os Coronéis, novo nome atribuído aos velhos senhores de engenho.
Bibliografia
* MACEDO, Joaryvar. Império do Bacamarte: uma abordagem sobre o Coronelismo no Cariri. 2 ed. Fortaleza: UFC, 1990.
Willian II
19.8.09
Acordar Histórico
Após longo período de hibernação, intercalado por tentativas de reação, O Rodapé ressurge light, mas com novo projeto pretensioso. Vamos nos dedicar ao estudo da História de nossa região.
Infelizmente, a real História do Cariri Cearense é mantida no anonimato, guardada por pequenos heróis da resistência, cada vez mais raros. A bibliografia é rara, esparsa e pouco divulgada. Mas nós, iremos procurar nos empenhar o máximo nos próximos meses a trazer à tona muitos dos fatos que foram decisivos no desenvolvimento desse taco de terra tão amado.
Nossa história é marcada por fatos, muitos deles heróicos, como foi a proclamação da República Brasileira em 1817. Muitos outros foram vergonhosos, como o etnocídio aos Karirys. Mas cada um desses fatos construíram quem somos e devem ser relatados. Motivos de orgulho para gritarmos ao mundo “eu sou cearense, do Cariri”, ou lições para não repetirmos os erros de nossos antepassados.
Não por acaso somos um Juazeirense e um Cratense, legítimos Caririzeiros. Não adianta fazer falsas promessas, seremos parciais, como é a história. Mas tomamos cuidados pra manter o equilíbrio. Seremos fiéis aos dados que conseguirmos, mas sempre que pudermos, haverá nossos comentários, quem sabe ressurja até aquela veia cômico-irônica que era tão presente em 2005.
Não será seguido um roteiro fixo no tempo. Infelizmente não temos tempo e logística suficiente para tal. Mas, quem sabe, e este é o nosso desejo, a idéia prospere, e possamos publicar tais artigos em formatos mais audaciosos.
Precisamos, contudo, da ajuda de cada um de vocês, leitores. Critiquem, elogiem, deem sugestões de temas, ou digam pelo menos que leram, pois isso nos motivará a escrever mais e melhor.
Micael François
Willian II
Infelizmente, a real História do Cariri Cearense é mantida no anonimato, guardada por pequenos heróis da resistência, cada vez mais raros. A bibliografia é rara, esparsa e pouco divulgada. Mas nós, iremos procurar nos empenhar o máximo nos próximos meses a trazer à tona muitos dos fatos que foram decisivos no desenvolvimento desse taco de terra tão amado.
Nossa história é marcada por fatos, muitos deles heróicos, como foi a proclamação da República Brasileira em 1817. Muitos outros foram vergonhosos, como o etnocídio aos Karirys. Mas cada um desses fatos construíram quem somos e devem ser relatados. Motivos de orgulho para gritarmos ao mundo “eu sou cearense, do Cariri”, ou lições para não repetirmos os erros de nossos antepassados.
Não por acaso somos um Juazeirense e um Cratense, legítimos Caririzeiros. Não adianta fazer falsas promessas, seremos parciais, como é a história. Mas tomamos cuidados pra manter o equilíbrio. Seremos fiéis aos dados que conseguirmos, mas sempre que pudermos, haverá nossos comentários, quem sabe ressurja até aquela veia cômico-irônica que era tão presente em 2005.
Não será seguido um roteiro fixo no tempo. Infelizmente não temos tempo e logística suficiente para tal. Mas, quem sabe, e este é o nosso desejo, a idéia prospere, e possamos publicar tais artigos em formatos mais audaciosos.
Precisamos, contudo, da ajuda de cada um de vocês, leitores. Critiquem, elogiem, deem sugestões de temas, ou digam pelo menos que leram, pois isso nos motivará a escrever mais e melhor.
Micael François
Willian II
25.6.09
Ronda do Quarteirão Se Expande
A principal promessa de campanha de Cid Gomes, o projeto Ronda do Quarteirão foi alvo de muitas críticas e desconfianças, inclusive por parte deste autor. Entretanto, após sua implantação na capital do estado, o resultado foi positivo, tendo em vista a redução da taxa de criminalidade. Depois de abranger por completo os municípios de Fortaleza, Caucaia e Maracanaú, o Ronda será expandido para outras cidades do interior, sendo Sobral e Juazeiro do Norte contempladas ainda esse mês.
A polícia comunitária, como também é chamada a equipe do Ronda, chega à terra de padre Cícero em um momento crítico, visto que o número de assaltos e homicídios é bastante elevado. Com o reforço do Ronda, a expectativa é de que essas temidas estatísticas sejam reduzidas, pois como se sabe, a melhor tática de segurança é a prevenção, motivo pelo qual os policiais devem ficar nas ruas, não no quartel.
O único problema é alguém querer cometer um crime só para poder andar de "bichona", como são conhecidos os veículos Hilux do Ronda...
19.6.09
Buscas por Petróleo no Cariri
O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, está na cidade do Crato para anunciar oficialmente o início de pesquisas na Bacia do Araripe em busca de petróleo. A decisão ocorre após estudos preliminares feitos pela Petrobrás em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
É grande a expectativa para que poços petrolíferos sejam descobertos na região, principalmente porque a estrutura sedimentar da Bacia do Araripe é semelhante à da cidade paraibana de Sousa, onde também foi descoberto petróleo há alguns anos.
Se as expectativas da ANP se concretizarem, algumas cidades da região do Cariri terão um substancial aumento de verbas, tendo em vista os royalties pagos pela Petrobrás. Entretanto, é importante atentar para a questão ambiental, pois alguns pontos da área da Chapada do Araripe estão bastante degradados, sendo imperioso buscar a extração com o menor impacto ambiental possível.
É grande a expectativa para que poços petrolíferos sejam descobertos na região, principalmente porque a estrutura sedimentar da Bacia do Araripe é semelhante à da cidade paraibana de Sousa, onde também foi descoberto petróleo há alguns anos.
Se as expectativas da ANP se concretizarem, algumas cidades da região do Cariri terão um substancial aumento de verbas, tendo em vista os royalties pagos pela Petrobrás. Entretanto, é importante atentar para a questão ambiental, pois alguns pontos da área da Chapada do Araripe estão bastante degradados, sendo imperioso buscar a extração com o menor impacto ambiental possível.
16.6.09
Dossiê das Organizadas - Parte Final
Depois de três artigos criticando as torcidas organizadas, a solução óbvia seria extinguir tais grupos. Entretanto a simples extinção de nada adiantaria, pois os vândalos continuarim frequentando os estádios em grupo. Além disso, não seria justo privar o torcedor pacífico de se reunir para incentivar a equipe. Então qual a melhor saída?
Na Europa, a violência nos estádios foi contida graças à identificação dos vândalos, que foram presos, processados e proibidos de frequentar as arenas esportivas. É esse, também, o entendimento do Promotor de Justiça Fernando Capez, um dos maiores combatentes da violência das torcidas organizadas. Em entrevista concedida à revista "Leis & Letras", Capez argumenta que "é importante que se faça um trabalho de investigação, com identificação das pessoas pelas câmeras de televisão, para que sejam processadas. E que seja feito um acompanhamento do clássico, no dia, por policiais velados, eu diria, descaracterizados, não uniformizados, infiltrados nas torcidas, a fim de que possam efetuar prisões. Eu acho que um acompanhamento por policiamento descaracterizado, e algumas prisões exemplares, são suficientes, porque certamente é um grupo minoritário de agitadores."
Vale lembrar que o Estatuto do Torcedor prevê a instalação de câmeras nos estádios, justamente para identificar vândalos, mas são raras as arenas que cumprem tal determinação...
Quanto à punição, não seria conveniente prender tais agitadores por dois motivos: I) As cadeias brasileiras estão superlotadas; II) Colocar em uma mesma cela um indivíduo que briga com torcedor de outro time ou que arremessa latas no campo, e um homicida ou estuprador poderia gerar danos ainda maiores.
Portanto, após a devida identificação, os torcedores mal-intencionado devem ser indiciados em processo criminal, mas devem ser punidos com sanções educativas, prestação de serviços à sociedade e proibição de frequentar estádios por um determinado período. A prisão só deve ser determinada excepcionalmente, caso o indiciado já responda a outros processos criminais ou, ao ser autorizado a retornar aos estádios, volte a se envolver em confusões.
Na Europa, a violência nos estádios foi contida graças à identificação dos vândalos, que foram presos, processados e proibidos de frequentar as arenas esportivas. É esse, também, o entendimento do Promotor de Justiça Fernando Capez, um dos maiores combatentes da violência das torcidas organizadas. Em entrevista concedida à revista "Leis & Letras", Capez argumenta que "é importante que se faça um trabalho de investigação, com identificação das pessoas pelas câmeras de televisão, para que sejam processadas. E que seja feito um acompanhamento do clássico, no dia, por policiais velados, eu diria, descaracterizados, não uniformizados, infiltrados nas torcidas, a fim de que possam efetuar prisões. Eu acho que um acompanhamento por policiamento descaracterizado, e algumas prisões exemplares, são suficientes, porque certamente é um grupo minoritário de agitadores."
Vale lembrar que o Estatuto do Torcedor prevê a instalação de câmeras nos estádios, justamente para identificar vândalos, mas são raras as arenas que cumprem tal determinação...
Quanto à punição, não seria conveniente prender tais agitadores por dois motivos: I) As cadeias brasileiras estão superlotadas; II) Colocar em uma mesma cela um indivíduo que briga com torcedor de outro time ou que arremessa latas no campo, e um homicida ou estuprador poderia gerar danos ainda maiores.
Portanto, após a devida identificação, os torcedores mal-intencionado devem ser indiciados em processo criminal, mas devem ser punidos com sanções educativas, prestação de serviços à sociedade e proibição de frequentar estádios por um determinado período. A prisão só deve ser determinada excepcionalmente, caso o indiciado já responda a outros processos criminais ou, ao ser autorizado a retornar aos estádios, volte a se envolver em confusões.
9.6.09
A Copa do Mundo é Nossa
Em 2014, após sessenta e quatro anos, o Brasil volta a sediar a Copa do Mundo de futebol, o maior evento do gênero e o segundo maior evento esportivo do mundo, atrás apenas das Olimpíadas. Os brasileiros, apaixonados por futebol, festejaram o anúncio, entretanto, como não poderia deixar de acontecer, surgiram críticas de que tudo não passa da velha tática populista panis et circensis (pão e circo), e que tal evento só servirá para despediçar dinheiro público. Afinal, a Copa será boa ou ruim para o Brasil?
Em primeiro lugar, cabe destacar que se os políticos brasileiros demonstrassem em outras áreas como saúde e educação, o mesmo empenho empreendido para realizar a Copa do Mundo, o Brasil teria indicadores socio-econômicos bem melhores do que os atuais. No entanto, isso não é motivo para reprovar a realização da Copa do Mundo, pelo contrário, o evento trará grandes benefícios para o país.
A Fédération Internationale de Football Association (FIFA), exige, além de estádios modernos, boas condições de transporte, comunicação e hospedagem. Este último não será problema uma vez que o país possui excelentes hotéis. Quanto aos setores de transporte e comunicações, serão necessários vários investimentos. É verdade que tais melhorias serão feitas para a Copa do Mundo, mas é de se ressaltar que o torneio dura apenas um mês, enquanto a infra-estrutura montada permanecerá, beneficiando, assim, a população. Outro fator importante será o incremento no turismo. Cidadãos de todas as partes do planeta virão ao Brasil para acompanhar os jogos, aquecendo a economia do país.
Quanto aos estádios, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), deixou claro desde o início dos preparativos que os investimentos devem ser prioritariamente da iniciativa privada. De fato, nos doze projetos escolhidos, os recursos serão em sua maioria privados.
Dessa maneira, não resta dúvida de que a realização da Copa do Mundo no Brasil, a exemplo do que ocorreu em 1950, trará inúmeros benefícios para o país. Resta aos brasileiros fiscalizar os governantes para que não cometam estripulias e torcer para que não ocorra outro "maracanaço". Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil, salve a seleção!
27.5.09
Dossiê das Organizadas - Parte III
Dia 26 de maio de 2009, no Rio de Janeiro, membros de duas torcidas organizadas do Fluminense (Young Flu e Força Flu), invadiram o treino da equipe e agrediram o jogador Diguinho. Após a confusão, o técnico Carlos Alberto Parreira deu uma entrevista, claramente assustado, pedindo à diretoria da equipe um local distante e isolado para treinar.
É esse o conceito de torcer? Com torcedores assim, nenhuma equipe precisa de inimigos. Apoiar o time depois de uma vitória é fácil, mas é nos momentos difíceis que os jogadores precisam de apoio da torcida.
Parafraseando Glenda Kozlowski, apresentadora do Globo Esporte: "Até quando os times vão dar voz a esse tipo de torcedor?"
23.5.09
Operação Sorriso em Barbalha
De 25 a 28 de maio, médicos e odontólogos de várias partes do mundo estarão em Barbalha para realizar gratuitamente cirurgias reparadoras na região do palato. A iniciativa parte da Organização Não-Governamental Operation Smile, sediada nos Estados Unidos e presente em 54 países. Pelo terceiro ano consecultivo, o município de Barbalha é incluído na rota da Operação Sorriso.
20.5.09
Dossiê das Organizadas - Parte II
As torcidas organizadas se tornaram ambientes propícios para a infiltração de pessoas mal-intencionadas que buscam se esconder na multidão para praticar crimes e vandalismos. Em dias de jogos, são comuns depredações de veículos e pichações de prédios nos arredores de estádios.
Muitos membros de organizadas utilizam a paixão pelo clube como desculpa para brigar, não importando o resultado da partida, mas sim a humilhação da torcida adversária. Existem casos em que torcidas organizadas combinam previamente via internet o confronto entre os membros, duelos estes em que são usados paus, barras de ferro e até mesmo armas brancas e de fogo. Esse tipo de atitude ficou conhecido no país em, 2005 quando membros da Fúria Jovem do Botafogo combinaram pelo Orkut um confronto com a Torcida Uniformizada do Fortaleza, resultando na morte de dois "torcedores", sendo um de cada lado.
Para aumentar o poder destrutivo fora de seus estados de origem, as organizadas criam as chamadas alianças. Atualmente existem duas grandes alianças de torcidas organizadas no Brasil: "Dedo Pro Alto" e "Punho Cruzado", que por sinal são inimigas... Os nomes nada criativos são uma referência aos gestos usados para identificar os membros. Infelizmente muitos jogadores concorrem para o fortalecimento desses grupos fazendo esses gestos enquanto comemoram seus gols, conforme imagens acima onde Cristian faz o símbolo "Dedo Pro Alto" e Souza o "Punho Cruzado".
No Ceará, a "Dedo Pro Alto" é representada pela Cearamor. Existem outras alianças no estado, algumas delas inusitadas, por exemplo, Itajovem (Itapipoca), era aliada da Cearamor (Ceará), mas em 2007 aliou-se à Fúria Icasiana porque o Ceará se recusou a jogar em Itapipoca. Fúria Icasiana e Cearamor que antes eram inimigas, tornaram-se aliadas depois da aliança entre TUF (Fortaleza), e Guaraloucos/Jovens Leões do Mercado (Guarani de Juazeiro).
Muitos membros de organizadas utilizam a paixão pelo clube como desculpa para brigar, não importando o resultado da partida, mas sim a humilhação da torcida adversária. Existem casos em que torcidas organizadas combinam previamente via internet o confronto entre os membros, duelos estes em que são usados paus, barras de ferro e até mesmo armas brancas e de fogo. Esse tipo de atitude ficou conhecido no país em, 2005 quando membros da Fúria Jovem do Botafogo combinaram pelo Orkut um confronto com a Torcida Uniformizada do Fortaleza, resultando na morte de dois "torcedores", sendo um de cada lado.
Para aumentar o poder destrutivo fora de seus estados de origem, as organizadas criam as chamadas alianças. Atualmente existem duas grandes alianças de torcidas organizadas no Brasil: "Dedo Pro Alto" e "Punho Cruzado", que por sinal são inimigas... Os nomes nada criativos são uma referência aos gestos usados para identificar os membros. Infelizmente muitos jogadores concorrem para o fortalecimento desses grupos fazendo esses gestos enquanto comemoram seus gols, conforme imagens acima onde Cristian faz o símbolo "Dedo Pro Alto" e Souza o "Punho Cruzado".
No Ceará, a "Dedo Pro Alto" é representada pela Cearamor. Existem outras alianças no estado, algumas delas inusitadas, por exemplo, Itajovem (Itapipoca), era aliada da Cearamor (Ceará), mas em 2007 aliou-se à Fúria Icasiana porque o Ceará se recusou a jogar em Itapipoca. Fúria Icasiana e Cearamor que antes eram inimigas, tornaram-se aliadas depois da aliança entre TUF (Fortaleza), e Guaraloucos/Jovens Leões do Mercado (Guarani de Juazeiro).
15.5.09
Juazeiro de Luto
Em 15 de maio de 2009, a cidade de Juazeiro do Norte se cobriu de negro. Não morreu nenhum filho ilustre do município, mas sim vários filhos anônimos. Cansados da crescente violência no município, os juazeirenses aderiram em peso ao protesto "Luto da Segurança Pública", organizado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Sindicato dos Comerciários, Sindicato das Indústrias e Associação Comercial de Juazeiro.
Na ocasião, o vice-prefeito José Roberto Celestino disse que o protesto é importante "para que a cidade não se torne um império de bandidos". A população espera que o poder público atente para a segurança e tome medidas sérias de combate ao crime.
Basta!
Na ocasião, o vice-prefeito José Roberto Celestino disse que o protesto é importante "para que a cidade não se torne um império de bandidos". A população espera que o poder público atente para a segurança e tome medidas sérias de combate ao crime.
Basta!
Dossiê das Organizadas - Parte I
Em 1942, torcedores cariocas criaram a primeira torcida organizada do Brasil, a "Charanga do Flamengo", com o objetivo de incentivar a equipe com músicas. Entre os anos 80 e 90, as torcidas organizadas se multiplicaram por todo o país, entretanto muitas não se espelharam na pacífica Charanga, mas sim nos vândalos hooligans europeus.
Muitos torcedores ditos organizados, vão ao estádio determinados a brigar, pouco importando o resultado da partida. A população brasileira se acostumou a ver entre os melhores momentos de uma partida e outra, cenas de barbárie nas arquibancadas e imediações dos estádios.
Com raras exceções, como e ninguém cala, esse nosso amor, e é por isso que eu canto assim é por ti fogo da "Loucos Pelo Botafogo" e eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu mengão da "Jovem Fla", o que se houve nos estádios brasileiros são palavrões impublicáveis neste blog, provocações e apologia a violência.
O desvirtuamento das torcidas também pode ser notado nos seus escudos e logomarcas, pois os amigáveis mascotes dos clubes são representados como verdadeiros monstros mal encarados, como na imagem ao lado.
As torcidas organizadas crescem de tal maneira que em alguns casos a organizada se confunde com o próprio clube, como, por exemplo, Corinthians e Gaviões da Fiel, Fortaleza e Leões da TUF, Ceará e Cearamor... Aliás, quando há um "Clássico Rei" (como é conhecido o jogo entre Fortaleza e Ceará), as camisas das organizadas representam a maioria esmagadora do estádio, esse fato, aliado às brigas e aos gritos de guerra que só se preocupam em provocar o adversário, dá a impressão que a disputa está nas arquibancadas, para saber qual torcida tem os integrantes mais barulhentos e fortes.
A tese da extinção das torcidas organizadas é defendida por muitos, inclusive pelo renomado jurista Fernando Capez. Mas a simples proibição de nada adiantará. O poder público precisa fazer o mesmo que foi feito na Europa com os hooligans, identificar os vândalos e puni-los com a proibição de ir a estádios e a imputação de prestação de serviços a comunidade.
Muitos torcedores ditos organizados, vão ao estádio determinados a brigar, pouco importando o resultado da partida. A população brasileira se acostumou a ver entre os melhores momentos de uma partida e outra, cenas de barbárie nas arquibancadas e imediações dos estádios.
Com raras exceções, como e ninguém cala, esse nosso amor, e é por isso que eu canto assim é por ti fogo da "Loucos Pelo Botafogo" e eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu mengão da "Jovem Fla", o que se houve nos estádios brasileiros são palavrões impublicáveis neste blog, provocações e apologia a violência.
O desvirtuamento das torcidas também pode ser notado nos seus escudos e logomarcas, pois os amigáveis mascotes dos clubes são representados como verdadeiros monstros mal encarados, como na imagem ao lado.
As torcidas organizadas crescem de tal maneira que em alguns casos a organizada se confunde com o próprio clube, como, por exemplo, Corinthians e Gaviões da Fiel, Fortaleza e Leões da TUF, Ceará e Cearamor... Aliás, quando há um "Clássico Rei" (como é conhecido o jogo entre Fortaleza e Ceará), as camisas das organizadas representam a maioria esmagadora do estádio, esse fato, aliado às brigas e aos gritos de guerra que só se preocupam em provocar o adversário, dá a impressão que a disputa está nas arquibancadas, para saber qual torcida tem os integrantes mais barulhentos e fortes.
A tese da extinção das torcidas organizadas é defendida por muitos, inclusive pelo renomado jurista Fernando Capez. Mas a simples proibição de nada adiantará. O poder público precisa fazer o mesmo que foi feito na Europa com os hooligans, identificar os vândalos e puni-los com a proibição de ir a estádios e a imputação de prestação de serviços a comunidade.
9.5.09
Papo Aberto - Mundo Diz Estamos em Crise, Lula Diz Relaxem e...
O Papo Aberto de abril teve participação recorde (negativo), três pessoas participaram! Os três mosqueteiros trataram como infelizes as frases de Lula de que a crise "é só uma marolinha" e que os responsáveis são "os brancos de olhos azuis", mas reconhecem que o Governo tomou boas medidas e que a crise não causou grandes estragos no Brasil.
23.4.09
O Dilema do STF
Ontem, os brasileiros assistiram boquiabertos o bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, membros da mais alta corte judicial do país. O ponto alto ocorreu com a afirmação do ministro Joaquim Barbosa de que Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), estava destruindo a imagem da Justiça brasileira. Seria chocante, se não fosse verdade...
Quando Montesquieu concebeu a teoria da separação dos poderes, o fez objetivando dinamizar a administração do Estado. No Brasil, durante muito tempo, a separação dos poderes não passava de alegoria, visto que o Executivo suprimia os demais. Com a redemocratização, os juízes finalmente tiveram liberdade para exercer suas funções, entretanto o mesmo não ocorreu com o STF, isto porque seus membros ainda hoje são indicados pelo Presidente da República, transformando o Supremo em uma corte política.
Poucos ministros do STF tiveram coragem de se desvincular do Executivo. Joaquim Barbosa foi um deles. O Supremo precisa de credibilidade e para conquistá-la, terá de esquecer de uma vez por todas as práticas do clientelismo.
Papel
21.4.09
A morte do Mártir
Há duzentos e vinte sete anos um brasileiro morreu, neste mesmo momento nasceu um mártir, um dos poucos verdadeiros heróis da história brasileira e sem dúvida o mais conhecido. Mas tanto tempo depois, faz mesmo sentido dedicar um feriado nacional à memória de Tiradentes?
Tiradentes era apenas apelido de Joaquim José da Silva Xavier, célebre arrancador de dentes do Brasil Colônia, mas não foi sua profissão que o imortalizou por mais medo que as pessoas pudessem ter de ir ao seu consultório... “José da Silva” é, ou deveria ser comemorado por ter sido um exemplo da luta do povo brasileiro contra a opressão de um governo corrupto comandado por uma superpotência que explorava legalmente nossas riquezas naturais.
A gota d’água para “José da Silva” e seus companheiros (a grande maioria de pessoas mais ricas e que ele) foi que Portugal instituiu um imposto chamado de “Quinto” pelo qual 20% de todo o ouro encontrado no país deveria ser entregue a nossa metrópole.
Sim, meus amigos, foi o peso no bolso que incomodou a sociedade e que deu origem a um dos mais famosos movimentos libertários brasileiros, a Inconfidência Mineira. Portugal venceu os revoltosos, os líderes do movimento foram expulsos do país, presos, torturados... Mas isso não bastou para “José da Silva”, sem a proteção da riqueza, ou de um título nobiliárquico, só restou a morte como forma de punição.
E hoje? Hoje comemoramos o que mesmo? Ah, a morte de Tiradentes... Oba, Tiradentes morreu, viva Portugal.
Eu penso diferente, deveríamos comemorar hoje a coragem de nosso povo. Mas que coragem? Vivemos em tempos em que o preço daquilo que compramos tem entre 40% e 60% de imposto. Mendigamos por diminuições esporádicas e corremos às lojas de carros e eletrodomésticos para nos darmos bem com a redução do IPI.
O que mais dói é que não sabemos nem pra onde vai esse dinheiro. Quase nenhum dos serviços públicos a exemplo da saúde, educação, segurança são considerado de qualidade. Ao mesmo tempo nossos líderes democráticos viajam pra Nova York e Paris com suas famílias sem tirar a mão do bolso. “Pobrezinhos passaram tanto desconforto pegando o avião da madrugada pra juntar esse dinheirinho”. “E quem é você pra falar alguma coisa? Isso é tudo regulado por lei, está dentro dos limites das normas!”.
É... Acho que cada ano que passa comemoramos cada vez mais a Morte de Tiradentes um dos tantos José da Silva morto por um regime injusto. Cada vez que nos calamos e que nos contentamos com as migalhas jogamos mais uma pá de cal na cova do dentista.
Herói, aceite meus humildes votos de agradecimento.
Justiniano
4.4.09
Papo Aberto - Efeito Estufa
O tema do aquecimento global parece ter tomado conta da comunidade de "O Rodapé" no Orkut, visto que tivemos discussões por demais calorosas.
Os participantes se dividiram em três correntes:
1) O efeito estufa é provocado pela ação antrópica, é um problema sério e o ser humano tem que tomar medidas drásticas e urgentes;
2) O efeito estufa é um fenômeno natural, mas que está sendo potencializado pelas ações humanas. O ser humano tem a obrigação de agir de forma menos nociva, mas não precisa radicalizar, por exemplo, não é preciso fechar todas as indústrias para que lançem menos gases, basta utilizar catalisadores;
3) O efeito estufa é um fenômeno natural. Não importa o que homem faça ele vai acontecer, pois o clima na Terra também depende de fatores extra-terrestres, como, por exemplo, as tempestades solares.
26.3.09
Padre Cícero: Patriarca de Juazeiro
No último dia 24, a cidade de Juazeiro do Norte comemorou o aniversário de seu fundador, Cícero Romão Batista. Durante sua vida eclesiástica e política, Padre Cícero despertou diferentes opiniões, para uns era santo e filantropo, para outros charlatão e coronel de batina.
Na época, ao analisar a transmutação da hóstia em sangue, os médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima atestaram que "facto da ordem dos observados não podem ser explicados pelo jogo natural dos agentes naturaes". Entretanto, o Bispo Dom Joaquim suspendeu as ordens sacerdotais de Padre Cícero baseado no relatório do Monsenhor Alexandrino de Alencar que disse ser uma farsa.
Milagre ou não, o fato é que Padre Cícero foi o principal responsável pela fundação de Juazeiro e pelo seu desenvolvimento vertiginoso (em apenas 97 anos, Juazeiro se tornou maior e mais importante do que a vizinha Crato que conta com 244 anos). Ainda hoje o sacerdote contribui para o desenvolvimento da cidade, visto que milhões de romeiros aqui desembarcam todos os anos.
Papel
17.3.09
Aborto em Recife
O recente caso de aborto feito em uma menina recifense de nove anos causou repercussão em parte considerável do planeta. A criança gestante foi vítima de estupro por parte de seu padrasto e estava grávida de gêmeos. Tal fato deve ser analisado em três pontos de vista distintos: jurídico, religioso e moral.
De acordo com o Código Penal Brasileiro, não se pune o aborto praticado por médico quando não há outro meio de salvar a vida da gestante ou quando a gravidez é proveniente de estupro. Verificando-se um dos casos previstos em lei, o aborto é legal. Em Recife, além da violência sexual, a menina corria risco de morte se a gestação fosse adiante, portanto, os médicos e a família agiram amparados pela Justiça brasileira.
Indignado com o aborto realizado, o Arcebispo de Recife excomungou os envolvidos na operação e os familiares que com ela consentiram. Tal decisão se baseia nos dogmas da Igreja Católica que considera o aborto (pecado contra a vida), mais grave do que o estupro (pecado contra o semelhante).
Após os desdobramentos do fato, diversos jornais e institutos especializados de pesquisa realizaram enquetes no território nacional, sendo que em quase todas, o resultado apontou a população brasileira como favorável ao aborto. A moral é fruto do comportamento da sociedade. Os brasileiros, embora católicos em sua maioria, julgam o estupro como uma conduta mais violenta e repulsiva do que o aborto.
É de se ressaltar que se os médicos não tivessem agido rapidamente, provavelmente a gestante iria morrer, pois seu corpo não estava preparado para uma gravidez, ainda mais de gêmeos. Se o argumento da Igreja é a preservação da vida, a operação garantiu pelo menos uma.
Papel
De acordo com o Código Penal Brasileiro, não se pune o aborto praticado por médico quando não há outro meio de salvar a vida da gestante ou quando a gravidez é proveniente de estupro. Verificando-se um dos casos previstos em lei, o aborto é legal. Em Recife, além da violência sexual, a menina corria risco de morte se a gestação fosse adiante, portanto, os médicos e a família agiram amparados pela Justiça brasileira.
Indignado com o aborto realizado, o Arcebispo de Recife excomungou os envolvidos na operação e os familiares que com ela consentiram. Tal decisão se baseia nos dogmas da Igreja Católica que considera o aborto (pecado contra a vida), mais grave do que o estupro (pecado contra o semelhante).
Após os desdobramentos do fato, diversos jornais e institutos especializados de pesquisa realizaram enquetes no território nacional, sendo que em quase todas, o resultado apontou a população brasileira como favorável ao aborto. A moral é fruto do comportamento da sociedade. Os brasileiros, embora católicos em sua maioria, julgam o estupro como uma conduta mais violenta e repulsiva do que o aborto.
É de se ressaltar que se os médicos não tivessem agido rapidamente, provavelmente a gestante iria morrer, pois seu corpo não estava preparado para uma gravidez, ainda mais de gêmeos. Se o argumento da Igreja é a preservação da vida, a operação garantiu pelo menos uma.
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7.3.09
Papo Aberto - Israel
Muitas opiniões, mas o mesmo raciocínio:
*Os judeus foram massacrados durante muito tempo por outros povos e hoje fazem o mesmo, massacram os palestinos;
*A criação do Estado de Israel foi um erro, pois incitou a rivalidade entre árabes e semitas;
*Os Estados Unidos patrocinam o massacre israelense;
*A ONU finge que não vê o que acontece na região;
*A única saída é a convivência harmônica das duas etnias no mesmo território.
Utopia? Esperamos que não...
*Os judeus foram massacrados durante muito tempo por outros povos e hoje fazem o mesmo, massacram os palestinos;
*A criação do Estado de Israel foi um erro, pois incitou a rivalidade entre árabes e semitas;
*Os Estados Unidos patrocinam o massacre israelense;
*A ONU finge que não vê o que acontece na região;
*A única saída é a convivência harmônica das duas etnias no mesmo território.
Utopia? Esperamos que não...
31.1.09
Papo Aberto - Dr. Santana, Fim da Oligarquia?
Poucos leitores participaram desse debate, talvez porque a resposta somente virá com o tempo.
Do ponto de vista teórico, a eleição de Manoel Santana representa uma mudança, visto que pela primeira vez um partido de orientação esquerdista venceu a eleição majoritária em Juazeiro do Norte. Há de ressaltar, ainda, que historicamente o pleito local é polarizado pelos candidatos dos ex-governadores Tasso Jereissati e Adauto Bezerra, enquanto em 2008, Dr. Santana se elegeu sem o apoio deles.
No entanto, não se pode esquecer que o petista era o candidato do então Prefeito Raimundo Macêdo, e que este emplacou alguns nomes como secretários na administração atual.
Assim, só nos resta esperar, pois somente as ações de Manoel Santana é que dirão se a oligarquia de fato acabou.
Do ponto de vista teórico, a eleição de Manoel Santana representa uma mudança, visto que pela primeira vez um partido de orientação esquerdista venceu a eleição majoritária em Juazeiro do Norte. Há de ressaltar, ainda, que historicamente o pleito local é polarizado pelos candidatos dos ex-governadores Tasso Jereissati e Adauto Bezerra, enquanto em 2008, Dr. Santana se elegeu sem o apoio deles.
No entanto, não se pode esquecer que o petista era o candidato do então Prefeito Raimundo Macêdo, e que este emplacou alguns nomes como secretários na administração atual.
Assim, só nos resta esperar, pois somente as ações de Manoel Santana é que dirão se a oligarquia de fato acabou.
30.1.09
O Caso Cesare Battisti
Recentemente, o Governo brasileiro, por meio do Ministério da Justiça, concedeu asilo político ao italiano Cesare Battisti, condenado a prisão perpétua por ter assassinado quatro pessoas na Itália. Tal decisão gerou a fúria do Governo italiano que chegou a retirar seu embaixador do território brasileiro (o que, em termos diplomáticos, é considerado como uma ofensa).
O Ministro da Justiça, Tarso Genro, alega que Cesare Battisti não teve direito a ampla defesa, que não consta se seu delator também foi punido e que o italiano pode estar sendo vítima de perseguição política. Em resposta, o Governo italiano apresentou provas dos quatro homicídios e afirmou que Battisti foi condenado em todas as instâncias da Justiça italiana, além de ter sua extradição concedida pelo Governo francês e confirmada por um Tribunal Europeu. Afirma, ainda, que o delator e ex-companheiro de Battisti está preso.
Diante desse imbróglio, quem está certo? Talvez os dois!
Em entrevista concedida essa semana à revista "IstoÉ", Battisti confessa ter participado do movimento paramilitar italiano, no entanto, nega os homicídios. Porém, existem provas conclusivas que ligam Battisti aos quatro crimes.
Entretanto, Tarso Genro, que é um jurista de renome, dificilmente concederia asilo político sem nenhum embasamento, visto que isso poderia gerar conflitos entre dois páises. O pedido de extradição é extremamente burocrático e, na ânsia de pôr as mãos em Battisti, talvez o Governo italiano não tenha cumprido todos os requisitos da Lei brasileira, deixando de anexar ao pedido todas as provas e cópias das sentenças.
Diante de tal circunstância, o Ministro Tarso Genro pode ter agido corretamente em nome de um dos princípios mais importantes do Direito Penal in dubio pro reu, ou seja, na dúvida, favoreça-se o réu.
Papel
O Ministro da Justiça, Tarso Genro, alega que Cesare Battisti não teve direito a ampla defesa, que não consta se seu delator também foi punido e que o italiano pode estar sendo vítima de perseguição política. Em resposta, o Governo italiano apresentou provas dos quatro homicídios e afirmou que Battisti foi condenado em todas as instâncias da Justiça italiana, além de ter sua extradição concedida pelo Governo francês e confirmada por um Tribunal Europeu. Afirma, ainda, que o delator e ex-companheiro de Battisti está preso.
Diante desse imbróglio, quem está certo? Talvez os dois!
Em entrevista concedida essa semana à revista "IstoÉ", Battisti confessa ter participado do movimento paramilitar italiano, no entanto, nega os homicídios. Porém, existem provas conclusivas que ligam Battisti aos quatro crimes.
Entretanto, Tarso Genro, que é um jurista de renome, dificilmente concederia asilo político sem nenhum embasamento, visto que isso poderia gerar conflitos entre dois páises. O pedido de extradição é extremamente burocrático e, na ânsia de pôr as mãos em Battisti, talvez o Governo italiano não tenha cumprido todos os requisitos da Lei brasileira, deixando de anexar ao pedido todas as provas e cópias das sentenças.
Diante de tal circunstância, o Ministro Tarso Genro pode ter agido corretamente em nome de um dos princípios mais importantes do Direito Penal in dubio pro reu, ou seja, na dúvida, favoreça-se o réu.
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4.1.09
Papo Aberto - Barack Hussein Obama
Sem dúvida esse foi o “Papo Aberto” mais tenso e acalorado até aqui. Em determinados momentos era possível ver faíscas entre um “scrap” e outro... Mas como dizíamos antigamente: o importante é polemizar!
Apesar de sua imensa popularidade no mundo inteiro, Barack Obama não anda com essa bola toda na comunidade do Rodapé. Apenas uma postagem dizia que ele significa o conserto da economia dos Estados Unidos. Todos os outros disseram que tudo não passa de “oba-oba” e que ele é simplesmente melhor que Bush (e quem não é?).
Outros pontos interessantes foram mencionados. Entre eles a importância da internet para a eleição de Obama. Nos Estados Unidos, onde o voto é facultativo, os jovens não costumam votar. Nesse pleito, a internet foi usada pelos dois lados para chegar aos jovens, resultado, foi a eleição com maior número de jovens nas urnas.
Foi dito ainda que a eleição de um negro não deixa de ser algo importante, pois em um país com um histórico tão racista, isso significa que os brancos estão mais tolerantes.
Curiosamente os ânimos se alteraram quando foi abordado o âmbito militar! De um lado aqueles que acreditam que Obama, por ser Democrata, será menos agressivo e tende a cumprir sua promessa de retirar as tropas do Iraque; De outro aqueles que acreditam que Republicanos e Democratas são absolutamente iguais e, portanto, vai ficar tudo do mesmo jeito.
Apesar de sua imensa popularidade no mundo inteiro, Barack Obama não anda com essa bola toda na comunidade do Rodapé. Apenas uma postagem dizia que ele significa o conserto da economia dos Estados Unidos. Todos os outros disseram que tudo não passa de “oba-oba” e que ele é simplesmente melhor que Bush (e quem não é?).
Outros pontos interessantes foram mencionados. Entre eles a importância da internet para a eleição de Obama. Nos Estados Unidos, onde o voto é facultativo, os jovens não costumam votar. Nesse pleito, a internet foi usada pelos dois lados para chegar aos jovens, resultado, foi a eleição com maior número de jovens nas urnas.
Foi dito ainda que a eleição de um negro não deixa de ser algo importante, pois em um país com um histórico tão racista, isso significa que os brancos estão mais tolerantes.
Curiosamente os ânimos se alteraram quando foi abordado o âmbito militar! De um lado aqueles que acreditam que Obama, por ser Democrata, será menos agressivo e tende a cumprir sua promessa de retirar as tropas do Iraque; De outro aqueles que acreditam que Republicanos e Democratas são absolutamente iguais e, portanto, vai ficar tudo do mesmo jeito.
Papo Aberto - O Que É Natal Para Você?
O debate começou com a crítica mais comum dessa época do ano (e talvez a que mais se adapta a ela): o natal é uma data consumista criada para alimentar o capitalismo. Entretanto, alguns debatedores analisaram esse artifício dos comerciantes como algo positivo, pois embora contra a vontade de muitos, o mundo vive em torno do capitalismo e o natal ajuda a manter o equilíbrio do mercado.
Em seguida foi dito que o natal é triste, pois simboliza a hipocrisia da sociedade que age de maneira egoísta durante todo o ano e no natal finge que tudo está bem.
Por outro lado, foi colocado que o natal, além de reunir hipócritas, também reúne famílias e amigos sinceros que aproveitam a data.
Houve consenso no que diz respeito ao lado religioso: este anda meio esquecido no natal. Papai Noel é mais lembrado do que Jesus Cristo. O seu nascimento que simboliza o início de uma nova era está restrito às celebrações da Missa do Galo.
Por fim, eis a transcrição do último tópico do debate:
EI GALERA FELIZ NATAL PARA TODOS.!!!
FELICIDADE E PAZ!!!!
VAMUS VIVER INTENSAMENTE, MAS COM A CABEÇA NO LUGAR.
VIVA JUAZEIRO..VIVA O CARIRI..VIVA TUDO QUE VEM DO SERTÃO.
Em seguida foi dito que o natal é triste, pois simboliza a hipocrisia da sociedade que age de maneira egoísta durante todo o ano e no natal finge que tudo está bem.
Por outro lado, foi colocado que o natal, além de reunir hipócritas, também reúne famílias e amigos sinceros que aproveitam a data.
Houve consenso no que diz respeito ao lado religioso: este anda meio esquecido no natal. Papai Noel é mais lembrado do que Jesus Cristo. O seu nascimento que simboliza o início de uma nova era está restrito às celebrações da Missa do Galo.
Por fim, eis a transcrição do último tópico do debate:
EI GALERA FELIZ NATAL PARA TODOS.!!!
FELICIDADE E PAZ!!!!
VAMUS VIVER INTENSAMENTE, MAS COM A CABEÇA NO LUGAR.
VIVA JUAZEIRO..VIVA O CARIRI..VIVA TUDO QUE VEM DO SERTÃO.
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