18.10.05

Dual

Natan se encontra com o Oráculo, se surpreende com sua forma e seu jeito de cozinhar (sim o oráculo estava fazendo bolinhos como uma pessoa normal), que aliás fazia dez minutos que Natan chegara e eles nem se entreolharam ainda, mas pouco depois Oráculo quebra o silêncio subitamente:

- Não se preocupe com a porcelana.

- Que porc...? – simultaneamente, movimenta os braços, que batem num vaso, que cai no chão, mas o impressionante é que até então, não lhe convinha um vaso no ambiente que estavam, onde não sabia se era cozinha, ou sala, ou qualquer outra coisa – Me desculpe!

- Disse para não se preocupar.

- Mas, como sabia...?

- Não, a pergunta não é essa; a pergunta é: você teria quebrado a porcelana se eu nada tivesse dito?

(silêncio)

Os bolinhos acabaram de assar, e cheiravam a pão de queijo.

- Creio que esteja aqui para saber a pergunta culminante da humanidade, mas que nunca é respondida, mas sua chance de descobrir qual o sentido da vida já passou, pra que saber agora já que está morto?

- Existe destino?

- Esse é um grande problema, o acaso existe com certeza, mas cada pessoa escolhe o seu, ninguém pode ser vítima dele, como naquele dia que você estava atrasado para a ceia de natal na casa de sua avó, e perdeu a carona com seus primos, então teve de ir a pé. Havia dois caminhos: pela rua São Luiz, onde tinha uma descida leve, mas era suspeita por causa da favela que lá tinha, ou pela rua São Paulo, uma subida cansativa, mas um lugar conhecido, onde havia amigos e vizinhança agradável. Optou pela São Luiz claro, estava atrasado. Estava tudo silencioso, a brisa estava agradável, um dia que tudo poderia ter dado certo, mas que já estava tão mal, até que apareceu uma pessoa, um velho, estava para atravessar a rua, parecia normal, mas vinha da favela, então era melhor não contrariar, de repente ele cai, no meio da rua, sangra muito. Natan você quase não o ajudou, estava atrasado, além disso, não o conhecia. “Mas que droga, tenho que parar” pensou, então colocou o velho em sobre um banco que havia perto, ele não parecia bêbado, drogado, ou com a mente alterada, mas babava e sangrava sem parar, a primeira coisa que veio em sua cabeça foi chamar os bombeiros, (havia um orelhão bem atrás dos dois), foi telefonar e um homem atendeu: “Ele está bêbado? Pois se estiver isso não é problema nosso”. Com raiva desligou o telefone, já tinha dado o endereço se quiser que viessem, e nesse momento sua vida estava com vários paralelos, o velho, sua avó, o bombeiro não humanista... Voltou ao banco e viu um amontoado de pessoas ao redor do velho, inclusive um homem encostado em seu carro, sem nem ao menos mostrar interesse para com a situação. “Poderia ao menos levar o homem para o hospital” rapidamente virou-se para o velho, “Você está bem?”, uma outra voz disse para não se aproximar pois ele estava violento, mas nada aconteceu. Minutos depois o velho se levanta, começa a andar, todos abrem espaço como se fosse um rei, caminhava até a esquina, e antes de desaparecer na curva, para e fixa o olhar para você durante dez segundos, vai embora sem dar satisfação. Você suspira, começa a andar, e uma música vem à sua cabeça, uma suave, mostrando que você é poderoso, que pode se igualar a mim, porém, não teria tanto orgulho assim se tivesse pegado a outra rua, mas poderia aproveitar a deliciosa torta da sua avó, o que não aconteceu por uma simples decisão sua e do acaso, o que gera uma nova pergunta: O que significa aquele velho? Mas isso eu não posso falar...

Por mais que comessem os bolinhos, eles não acabavam, mas mudavam de gosto, como se fossem as fases da vida.

- E como alcançar a felicidade?

- A felicidade de uma pessoa começa quando ela começa a se perguntar quem realmente ela é, mas por ironia, o ser humano já nasce sabendo ser feliz, e quanto mais “amadurece”, mais perde esse senso. As crianças sabem, mesmo que inconscientemente, o sentido da vida e da felicidade, que se resume na tênue linha entre o que se pensa e o que se faz. Quer mais bolinhos?

- O que o senhor é, realmente?

- Não me chame de senhor, pois sou apenas um amontoado de palavras que serve para alguém acreditar em alguma coisa.

- Nossa! Nunca estive tão confuso. O que eu sou afinal?

- Mais uma pergunta errada, primeiro pense: Você existe realmente?

- Pensei que quando morresse todas as minhas perguntas seriam respondidas...

- Mas já foram de uma forma conotativa, mas você tem que acordar... ABRA SEUS OLHOS (abra jos olhios).

(...)

“Acordei em meu apartamento, suado e assustado, o mundo parecia outro, não sabia se queria viver ainda, mas com certeza, pelo resto da minha vida, irei tentar sempre fazer as perguntas certas.” Natan.

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