18.10.05

Adolescência Infantil

Ele esperara tanto tempo para conquistá-la e agora que ela estava ali, em seus braços, completamente sua, ele parava e fitava aqueles olhos negros, que lembravam duas jabuticabas, que lembravam uma jabuticabeira, que lembrava o sítio da sua avó, que lembrava sua infância, que lembrava suas brincadeiras embaixo da jabuticabeira sempre contemplando aqueles olhos negros. Amigos na infância, namorados na adolescência.

Permanecia imóvel, vitrificado. Veio-lhe a memória Casimiro de Abreu, este homem o marcou profundamente, afinal foi quem escreveu o poema “Meus Oito Anos”. Sempre gostou deste poema, mas em vez de bananeiras e laranjais ele lembrava da jabuticabeira... Enquanto isso, ela começava a se preocupar com a (falta de) reação do namorado, só não gritou por socorro porque sabia que se o pai entrasse no quarto e visse os dois juntos, faria um escândalo.

Parece ter voltado ao normal. Piscou os olhos (mania de criança), sorriu, beijou a testa da amiga e disse:

-Vamos voltar à nossa infância?

-Mas... Agora?

-Porque não?

-Você está bem?

-Nunca tive tão bem! Você é que não tá bem.

-Eu!?

-É. Eu não te conheço mais... Tchau.

-Mas Pedro...

Dirigiu-se à porta do quarto.

-Pela porta não! Papai deve está na sala!

-E o que é que uma criança poderia tá fazendo no quarto de uma adolescente?

Saiu. Cumprimentou o pai dela na sala e foi embora. O pai, sem entender nada, vai ao quarto da filha.

-Filha, o que é que Pedrinho estava fazendo aqui?

-É o que eu queria saber. O que é que “Pedrinho” estava fazendo aqui?

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