14.9.09

O Suposto Milagre


Em 06 de março de 1889, primeira sexta-feira da Quaresma, Padre Cícero ministrava a comunhão a um grupo de fiéis, quando ao chegar a vez de Maria de Aaújo, a hóstia transmutou-se em sangue na boca da beata, e estigmas semelhantes ao de Cristo apareceram em seu corpo. O fenômeno se repetiu por diversas oportunidades, sempre com a beata Maria de Araújo (ao lado).

Milagre ou embuste? A pedido do próprio Padre Cícero, o Bispo Dom Joaquim enviou uma comissão para apurar os fatos. O grupo era composto por Marcos Rodrigues Madeira (médico), Ildefonso Correia Lima (médico e professor da Faculdade do Rio de Janeiro), Joaquim Secundo Chaves (farmacêutico), além de diversos padres da região. Os médicos Marcos Rodrigues e Idelfonso Correia escreveram atestados onde contam com riqueza de detalhes a "investigação" do caso.

Dr. Marcos Rodrigues conta que: "(...) Não contente com os exames antecedentes mandei que lhe fizesse diversos gargarejos em minha vista, os que depois de eliminados não apresentava coloração alguma de sangue ou de outra matéria corante qualquer. Sem deixá-la mais de vista acompanhei-a até a Igreja, onde examinei a âmbula e partículas n'ella existentes (...)". Dr. Idelfonso Correia complementa que: "(...) mandei que ella vascolejasse água pura na bocca e depositasse-a depois em um prato de vidro, onde verifiquei não haver mudança alguma da cor do líquido, denunciável à vista (...)".

Após presenciar a transformação da hóstia, Dr. Ildefonso Correia afirmou: "(...) facto da ordem dos observados não podem ser explicados pelo jogo natural dos agentes naturaes, sendo forçoso acceitar a intervenção de um agente inteligente occulto que represente a causa, o qual, no caso em questão, acredito em ser Deus (...)". Já Dr. Marcos Rodrigues é categórico ao afirmar que acreditava em embuste, mas mudou de opinião ao ver pessoalmente o fenômeno: "(...) Muitos factos semelhantes se têm dado no Joazeiro e para verifica-los era mister que o Exmo. Bispo Diocesano viesse a esta localidade, si não acreditar, como eu até pouco tempo, na sua veracidade, apezar do testemunho quase diário de centenas de pessoas (...)".

Entretanto, a Diocese relutava em aceitar o milagre. Conta-se que o Padre Chevallier (reitor do Seminário da Prainha e assessor de Dom Joaquim), teria dito: "Jesus Cristo não vai deixar a França para obrar milagres no Brasil". Assim, o Bispo enviou uma nova comissão para apurar os fatos, comissão esta liderada pelos padres Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido, ambos de confiança do Bispo. Quando o Padre Alexandrino de Alencar ministrou a comunhão a Maria de Araújo, nada ocorreu. A beata disse que o fênomeno não ocorreu porque o Padre Alexandrino era homem de pouca fé. O comentário rendeu à beata palmatórias e enclausuramento, enquanto ao Padre Cícero suspensão de suas ordens sacerdotais.

Uma terceira hipótese, levantada, na época, pelo Dr. Júlio César da Fonseca Filho, afirmava que o fenômeno não era milagre nem embuste, mas sim, fruto de uma crise de histerismo de Maria de Araújo. Tal posicionamento foi resgatado recentemente pela parapsicóloga Drª. Maria do Carmo Pagan Forti que afirma tratar-se o fenômeno de resultado da influência do psiquismo sobre o organismo, ou seja, a imaginação emotiva da beata gerou o sangue e estigmas.

Bibliografia:
* BARBOSA, Geraldo Meneses. Relíquia: o mistério do sangue das hóstias de Juazeiro do Norte. Juazeiro do Norte: Gráfica e Editora Royal, 2004.
* FORTI, Maria do Carmo Pagan. Maria do Juazeiro: a beata do milagre. São Paulo: Annablume, 1999.

Micael François

Nenhum comentário: