4.10.09

Juazeiro x Crato: As Origens da Rivalidade

É comum ver um juazeirense e um cratense discutindo sobre qual cidade "é melhor". Em jogos de futebol entre os clubes de Juazeiro do Norte (Icasa e Guarani), e o time do Crato, as provocações das torcidas muitas vezes são direcionadas às cidades. O que hoje parece ser uma disputa sadia, antes foi motivo de embates furiosos e, no auge da rivalidade, a região deixou de receber diversos empreedimentos porque os investidores temiam se instalar em uma cidade e sofrer boicote da outra.

O início da rivalidade remonta ao século XIX, quando, após os acontecimentos miraculosos já abordados por este blog, a Igreja Católica iniciou uma campanha difamatória contra Padre Cícero e o então distrito de Tabuleiro Grande. Para se ter uma ideia da dimensão dos ataques eclesiásticos, em agosto de 1909, o Bispo auxiliar Manuel Lopes, em pregação na cidade do Crato, declarou: "Povo nobre e altivo do Crato, peço permissão para falar sobre o povo imundo de Juazeiro, que vive guiado por Satanás". Em reposta à frase do Bispo, a população de Juazeiro decretou uma greve geral à economia do Crato, não recolhendo impostos, suspendendo a venda de produtos agrícolas e industriais, além do não comparecimento ao trabalho (caso daqueles que laboravam no Crato).

A partir daí, surgiu o segundo e principal motivo para a rusga: a questão político-financeira. O jornal "O Rebate", criado em julho de 1909 para defender a emancipação de Juazeiro, intensificou a campanha e passou a realizar pesados ataques aos chefes políticos do Crato. O crescimento vertiginoso de Juazeiro aumentou consideravelmente a arrecadação de impostos e oferta de mão-de-obra, razão pela qual a emancipação do distrito estava fora de cogitação por parte da Prefeitura do Crato.

O movimento emancipacionista ganhou força em 1910, quando Padre Cícero abandonou a posição de neutralidade e enviou carta ao Governador Nogueira Accioly, requerendo a autonomia política de Juazeiro. No mesmo ano, houve uma passeata em prol do movimento, reunindo cerca de 15 mil simpatizantes.

Em 22 de julho de 1911, Juazeiro se tornou independente do Crato. Os poderes públicos dos dois municípios passaram a disputar investimentos públicos e privados, o que como dito antes, trouxe mais malefícios que benefícios. Em 1914, com a Sedição de Juazeiro, o município do Crato serviu de base para as forças rabelistas, motivo que acirrou ainda mais os ânimos e levou juazeirenses e cratenses às vias de fato. Aliás, os confrontos mais impiedosos que se tem notícia acerca da Sedição, ocorreram no Crato.

Com o passar dos anos, o clima hostil entre as duas cidades foi se dissipando, embora infelizmente ainda teime em existir. É preciso ter em mente que, juntas, as cidades do Cariri tem mais chances de atrair investimentos e se desenvolver do que se continuarem remoendo antigas desavenças.

Bibliografia:
* MATIAS, Aurélio. O Poder Político Em Juazeiro Do Norte – Mudanças e Permanências – as Eleições de 2000. Juazeiro do Norte: Gráfica Nobre, 2008.
* TOLEDO, Roberto Pompeu de. Quem tem medo de Frei Damião?. VEJA, São Paulo-SP, ano 30, p. 134, jun 1997

Micael François

Um comentário:

Jocelio disse...

Extraordinário. A história do Nordeste é singular. Seus personagens beiram o fictício. Causou-me arrepio ler este texto e a entrevista com Lampião.